Poemas : 

De Voz Na Mão

 
Aqui
impero,
sou tirano e tinto,
nesta página plena de Branco
o que consinto, o que penso, sou soberano.

Num mundo feito de agoras meus
não há um só segundo de demoras,
ou minutos de direito, apenas horas
para tudo,
para tudo sou deus.

E mudo
nas letras e nas caras.
(re)Tiro as consoantes antes, as vogais,
dou-as ao vento e à luz,
à água e à sede.

Aqui
impero
de voz na mão.


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

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Autor
Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
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Publicado: 03/06/2020 18:27  Atualizado: 03/06/2020 18:27
 Re: De Voz Na Mão
AS PALAVRAS

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade