Poemas : 

Cena Três - Da Cegeira à Lucidez

 
Há vezes que viver é contracenar com uma imensa solidão
Há vezes que minha voz te busca meio à vastidão da noite
Longamente como o pensamento que percorre os campos
Inutilmente, prematuramente e não há mais nenhum trigal
Ceifados, sem o brilho precioso, sem o ondular do outono

Há vezes que queria tua voz gritando louca na minha boca
Quase lamento as folhas de melancolia dispersas pelo chão
Foi aquela semente inventada no escuro do nosso coração
Ora vem doer em meu peito ardendo em chamas pela noite
Desde logo arrebatando meus caminhos nesse vil turbilhão

Há vezes que não sei o que dizer nem durante a primavera
Ao que dentro de mim, em puro espanto, ainda te procura
Ainda lembro de quando te chegavas sôfrega a meus lábios
E com teu toque de girassol me fazias deus, criança, mudo
Sem poder dizer que o nosso cantar fazia milagres em mim

Por vezes me deito, me levanto, olho os trevos do canteiro
Olho adiante a cidade em luzes, ouço o som triste do oboé
Entre todos os instrumentos da minha orquestra de agonia
Deixo rastros de sangue que meu peito desvairado sangrou
Há vezes que penso isso era amor, mas sei que era cegueira

A morte, diz a lenda, é o amor enorme. É enorme estar cego


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/11/2021 22:02  Atualizado: 04/11/2021 22:02
 Re: Cena Três - Da Cegeira à Lucidez
.
Cada dia eu gosto mais de seus poemas e é muito bom admirar às pessoas. Você sendo uma pessoa experiente consegue ser jovem e se adapta facilmente.
Alguns consegui uma transformação nas pessoas um " milagre "
A magia do sorriso, a paciência, a gentileza

Quando tudo diz que não, você diz que vai conseguir
Quando as nuvens traz as tempestades você é firme para levar para longe o medo
Quando todos reagem como ogros é uma boa surpresa alguém gentil.


Enviado por Tópico
Legan
Publicado: 05/11/2021 09:44  Atualizado: 05/11/2021 09:44
Colaborador
Usuário desde: 26/01/2010
Localidade: Algures em Trás-os-Montes
Mensagens: 788
 Re: Cena Três - Da Cegeira à Lucidez
O amor é cego, ou somos nós que ficamos cegos, mas o amor tem que ser assim...

Tenho pena, de não ter lido as outras duas cenas,(não sei se as publicou).


Abraço


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/11/2021 21:13  Atualizado: 06/11/2021 23:54
 Centenas, puras e escuras
















Não me substituam da realidade,
A ideia de verdade, por base nula,
Jamais abdicarei de ser eu próprio,
Nunca me vergarei ao opróbrio, ao jugo,

Nem ao blindado de guerra, ao genocida,
Todas as minhas causas são justas e vivas
Consciência não é uma circunferência,
Mais profunda minha casta, meu mérito

E não a desonra, sigo linhas puras,
Não substituam realidade por outra,
Por outra coisa obscura preta, negra
Sem decote, como se fosse arte crua,

Carne viva é o meu mote e dura
Minha sentença, a morte regalia
Que dou aos vis, aos insignificantes
E aos fracos, aos tímidos, timidez

Me irrita até fazer dor nos punhos,
Quebro qualquer muro, parto até
Uma faca que me vire o gume,
Se vier alguém rebaixar um outro,

Não me troquem a verdade, estou
Farto de hipocrisia fútil de "gang" e do "agir
Pra dentro" como quem esboça
Um aceno, um gesto, minha glote

E traqueia um exército, uma fauna,
Minha fala não mais será humana,
Não faço uso de anéis de damas,
Sim de espadas e catanas nuas … centenas,

Puras e escuras … duras aljavas
Otomanas.




















Enviado por Tópico
Abissal
Publicado: 07/11/2021 21:41  Atualizado: 07/11/2021 21:41
Membro de honra
Usuário desde: 27/10/2021
Localidade:
Mensagens: 542
 Re: Cena Três - Da Cegeira à Lucidez
um turbilhão de sentires. gostei da leitura.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/11/2021 05:05  Atualizado: 08/11/2021 05:05
 Re: Cena Três - Da Cegeira à Lucidez
*um misto de significados e sentimentos tomou-me.
*
Lucidez*
pelo sol poente dos meus olhos
sinto a carícia imprecisa do poema
a solidão do verso resplandece
uma lua sinuosa espreita
o céu da minha mente

astros rebrilham na fronte
cálidos sons prenunciam
é chegada a hora do sonho

convulsa
-no peito extremado-
constelação de estrelas-letras

agregadas ao calor dos dedos
palavras inquietas na alva
dançam no afago da utopia
há uma desnuda certeza

- nascemos num instante tudo ou nada-
K*

*um improviso, inspirado no q minha alma absorveu do teu rico poema.
Desculpa-me a invasão
Beijoka*