Poemas : 

Insulto

 
Quem fôra eu senão aquele que deu de beber à morte
E agora canto à lua no norte de seu enorme nascente
Eu que talvez simplesmente não creia no final sinótico
Todavia perceba que aos mortos idade alguma convém

Há tempos descobri a verdade sobre a flor da infância
Que, imperecível sobre a mesa, era plástica e sem alma
Já me senti estrangeiro nesta terra, que não sou daqui
Mas bem aceitei, qual oblação viver esta vida por aqui

Desde então, foram muitas idas e lágrimas derramadas
Porque eu senti a extrema solidão do vento que passa
Hoje vim para escrever um poema de palavras gravosas
De versos que fendam cada consciência como punhais

Palavras vindas dos amanheceres da inocência perdida
Para relembrar essa voz extinta, na garganta da cidade
Um homem que não se ama, jaz um homem derrotado
Fadado a navegar na quietude das caravelas do pranto

A tua face é o exemplo de como as coisas evaporaram
Uma distração do olhar e, de súbito, nada mais é igual
Tive tua boca na minha e não vi o singular ato de tê-la
E, em minutos impiedosos nem mesmo o ato de perder

O inverno chegou e qual um insulto, eu nem o percebi
Nem descobri qual palavra poderá remir os erros meus


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
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