Sim, devo ser tudo aquilo que dizem que eu sou
Igualmente, não é meu o que dizem que não sou
A um só tempo sou tudo ou nada do que ideiam
Porém eu não sou covarde e nada pode me calar
Os que perceberem como eu meus versos tortos
Saberão que meu poema abriga uma ternura nua
Mas, não os falsos profetas, que nada percebem
A estes, sou apenas um malabarista das palavras
Farão de tudo para negar as minhas edificações
Hinos nem raros, nem vulgares que os envenena
Obriga-os a pensar no verso, também no reverso
Mas não venham me falar que esse uivo é poesia
Ou imaginar que haja alguma morte mais branda
Um poeta original é o que sou, atirado ao poema
Como quem se atira ao abismo, só para renascer
Filho das palavras, nascido nos sismos do trajeto
De origem incerta e sem pertencer a lugar algum
Expulso do paraíso, sou todos, mas sou nenhum!
"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)