Prosas Poéticas : 

RESGATE

 
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A intenção principal era encontrar a velha escrivaninha, quando fora descoberta afinal, jazia empoeirada no sótão do casarão da família há muito desabitado desde finda a época de ouro do café. À época, certamente aquele pequeno ambiente servira de escritório particular e também emergencialmente de dormitório para hóspedes menos exigentes. As paredes, revestidas de papel importado francês estampado com ninfas banhando-se... Amarelado pelo tempo, parecia guardar segredos seculares. Adentrando cuidadosamente e desviando-se dos emaranhados de teias, notava-se que ela tinha algumas das suas partes, principalmente; pés, laterais e tampo, corroídos pelas térmitas, já ausentes. Apesar dos sinais evidentes de abandono, acredito que involuntário, juntada à outros móveis menores; uma cômoda e dois criados mudos com tampos de mármore de veios esverdeados ladeando uma enorme cama de casal maciça em jacarandá. Estranhamente, a tampa superior de enrolar do achado principal encontrava-se entreaberta expondo num dos escaninhos uma chave de ferro, esta que permitiu acesso ao gaveteiro lateral... Aberta a primeira gaveta, lá estavam, intactos, os livros de poesia, raros, autor desconhecido, que naquela época, ainda eram manuscritos à pena. Estórias resgatadas!

 
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ZeSilveiraDoBrasil
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/07/2023 12:28  Atualizado: 10/07/2023 12:28
 Re: RESGATE
Seu modo de escrever é cativante. Resgatei mais esse texto seu. Aguardo o próximo ou outro canto.

Di


Enviado por Tópico
Sergius Dizioli
Publicado: 10/07/2023 21:27  Atualizado: 10/07/2023 21:27
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 Re: RESGATE
Vi exatamente a escrivaninha de tampo de enrolar que ficava debaixo da escada de madeira em uma casa que morei. Sobre ela, uma coleção de latas de cervejas importadas e raras, todas já devidamente esvaziadas e degustadas. No gaveteiro, repousava uma deliberada bagunça de papeis diversos que fazia esconder alguns poemas que jamais quis revelar à musa errada. Grato meu amigo, teu escrito me devolveu essa lembrança que jazia perdida nos escaninhos de tantas memórias. Saudações.