Prosas Poéticas : 

ANÔNIMA

 
Não me chamava tanta atenção aqueles grandes olhos acastanhados, emoldurados entre os longos cílios postiços.
Tampouco sua pequena boca ornada com lábios carnudos a sobressair no rosto largo e moreno de sol.
Os longos cabelos negros caídos sobre os seios maçãs, escondiam parcialmente os delicados mamilos debaixo da blusa de voil; túmidos pela aragem fresca soprada à beira mar.
Via-se nitidamente seu ventre se contrair ao menor toque dos dedos delgados, unhas alongadas e esmaltadas escandalosamente, sinalizando para baixo da minissaia, que abrigava seu fruto raro de possuir, mas disponível para quem dispusesse pagar caro.

Décimo terceiro chopp, na tarde caída e eu sem pressa nenhuma de sair dali.

Na esquina, ela era a única a desfilar à passos curtos vitrinando o belo par de coxas, pernas andarilhas, naturalmente rijas, guardiãs imponentes do seu ponto.

Bebi o último chopp, paguei a despesa, e me encaminhei para o cafofo que quisera um dia alugar para ela...

Já de manhã, cada gole de café acentuava o amargor da boca.
Com facilidade, comecei a lembrar-me do sonho bom cena por cena, ou pesadelo; resquício duma tarde etílica.

 
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Yan_Booss
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Enviado por Tópico
Dirose
Publicado: 30/01/2024 10:54  Atualizado: 30/01/2024 10:54
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 Re: ANÔNIMA
Não me lembro ter tecido ainda algum comentário nos seus escritos. Dos que li, notei que sua linha poética é preferencialmente banhada de nuances bastante sensuais. Hoje não quis perder a oportunidade, já que neste seu post, o olhar no cotidiano abrangiu características e postura duma trabalhadora do sexo nas esquinas na zona sul do Rio, proseado com riqueza de detalhes. Sou do Rio, da zona Oeste, mas reconheço que a personagem é real; se se encerra com a dúvida do sonho ou pesadelo pelo subterfúgio perfeito criado pelo poeta.

Di