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Nuno Júdice (29 de abril de 1949 - 17 de março de 2024)

 

Um Amor

Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.

(a um professor, ainda que breve; ao comunicador; ao Poeta, um dos meus preferidos).


 
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Almamater
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Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 18/03/2024 17:17  Atualizado: 18/03/2024 17:17
Administrador
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Localidade: Porto
Mensagens: 3597
 Re: Nuno Júdice (29 de abril de 1949 - 17 de março de 2024)
Olá Almamater

Sem dúvida. Uma grande perda para a humanidade.
Portugal está de luto.

RIP

atenciosamente
Hc

Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 18/03/2024 17:55  Atualizado: 18/03/2024 17:55
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3101
 Re: Nuno Júdice (29 de abril de 1949 - 17 de março de 2024) p/ Almamater
Sempre que se muda de página, lê-se mais um pouco do passado, sucumbe a parte humana, mas palavras, eternas, imortalizam todo o livro.

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 18/03/2024 19:24  Atualizado: 18/03/2024 19:24
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 1940
 Re: Nuno Júdice (29 de abril de 1949 - 17 de março de 2024)
Ficará o seu legado. As várias curvas que conheceu na vida.
Infelizmente, para todos, não nos dará poemas novos.

Poema demais Fernanda.
Sorriso meio amargo

Enviado por Tópico
benjamin
Publicado: 18/03/2024 19:28  Atualizado: 18/03/2024 19:28
Administrador
Usuário desde: 02/10/2021
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 Re: Nuno Júdice p/ Almamater
.
Agradeço à Almamater ter aberto aqui este espaço de homenagem, que me fez voltar aos livros de Nuno Júdice.

Este poeta foi uma grande influência para mim e é com nostalgia que tenho regressado às suas palavras.

Como acho que o melhor tributo à memória de um poeta é recordar os seus textos, deixo aqui dois poemas, retirados dos dois livros que li deste autor.

PEDRO, LEMBRANDO INÊS
(do livro homónimo, de 2002)

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: «Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?» Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

-----------------

BALANÇO
(do livro "As coisas mais simples", de 2006)

Que fica de quem passa? Um eco de mágoa
ao ouvido da tarde? Uma pausa de palavras
na frase do instante? Uma interrupção de passos
a caminho da porta? Um sal de sentimento
no coração da amada? A vida esfarelada
numa dissipação de rumos? Ou um peso
de esquecimento na sombra da memória?

Mas quem passa não pensa no que fica,
se os passos o levam para onde espera
ficar; e se o seu destino é a passagem,
onde ficar é sair de onde não chegou a
habitar, é o tempo que o obriga a não olhar
para onde não há-de voltar, mesmo que aí
tenha deixado o que pensou consigo levar.

Náufrago sem ilha nem barco, ou
marinheiro preso ao porto, é ele o seu próprio
fim, como se a cada momento não soubesse
que não é dele o que leva, e só é dele o
que perde, como se o não quisesse guardar,
para que chegue mais depressa, ao cair da noite,
a esse cais onde ninguém o irá esperar.

E repete, então, o que não devia fazer, para tudo
fazer de novo, como se tivesse de o fazer.

Enviado por Tópico
Mimus-triurus
Publicado: 19/03/2024 19:35  Atualizado: 19/03/2024 19:35
Usuário desde: 06/11/2022
Localidade:
Mensagens: 40
 Re: Nuno Júdice (29 de abril de 1949 - 17 de março de 2024)
Uma bonita e necessária homenagem a um grande poeta e professor que partiu.

Um abraço, querida Alma.