Eu não pretendo ser muita coisa. Quero dizer, socialmente falando. Hoje, o meu desejo é apenas conhecer-me cada vez melhor, compreender quais são as minhas falhas mais gritantes e tentar corrigi-las dentro do possível. Ou seja, ser mais próximo da versão que Deus sonhou ao presentear-me com o sopro da vida.
Tenho falhado repetidamente — tropeço na pedra no meio do caminho. E tenho plena consciência de que são erros gritantes. Não abrirei a vocês meu diário para não escandalizá-los. Sei como são limpos todos os perfis maquiados na internet. Eu, qual Fernando Pessoa, não conheço quem tome porrada na vida.
Mas, quando falo dos meus próprios defeitos, corro sempre o risco de cair no autoengano, de listá-los dentro de uma idealização criada pela necessidade de aparentar qualquer coisa além do que sou no meio social, e, assim, ser aceito. Quero dizer: até as falhas podem ser menos monumentais do que imagino. Talvez tudo seja tão monótono, medíocre (na acepção do termo), que eu tenha medo de olhar no espelho e aceitar-me assim: comum. O mais comum dos homens.
Essa guerra entre a necessidade de criar uma persona poética, um ar de escritor — vestir-me como escritor, postar-me como escritor, ter aparência de escritor —, tudo para ser aceito pelo público, e ser um ser humano normal, aproveitando das suas experiências reais para torná-las matéria-prima de uma obra cuja substância exista... Essa guerra me consome. A questão que me assombra dia e noite é: quero audiência ou construir uma carreira sólida? E mais: ambos são autoexcludentes?
O Lucas real procrastina mais do que deveria, depende das redes sociais mais do que gostaria e tem a vida social distante da sonhada. Anseia as coisas do alto, tem grandes insights de vez em quando, mas a maior parte do tempo vive é ao rés do chão.
Talvez a salvação — se é que existe uma — esteja em viver o chão sem vergonha. Em escrever não para sustentar um personagem, mas para descobrir o que ainda pulsa quando todas as máscaras caem. Não é fama que redime. É a verdade.