i.
Da Vida brota mais vida,
essa é a grande lei:
na semente está contida
toda a fagulha do Rei.
ii.
A flor rebenta em si, impera,
dá sementes sobre o leito...
O que sou desde sempr'era
de alguma forma no peito.
iii.
É preciso praticar
sempre a justa contenção:
domesticar nosso olhar,
pra falar o coração.
iv.
Fecha-se no mesmo instante,
a vida é este agora:
fortalece-se no seu antes,
mas difere no que aflora.
v.
A dor tem função arquetípica,
nos ensina a valorar
o lado bom dessa vida
– isso que há de perdurar...
vi.
A beleza traz em si
a potencialidade:
todo gosto que há de vir,
rebentada a eternidade...
vii.
Quintana com os seus versos
de belezas fantasmais,
diz-nos de modos diversos:
só mistérios são reais...
viii.
Bandeira em vossa ternura
legou a lição em desatino:
quando a vida estiver dura,
dancemos tango argentino.
ix.
A vida é penitência,
que o sublime bem prediz
– aquilo que há em potência
é a nossa real raiz...
x.
Em suas mitologias,
Borges instiga os intintos,
ensina que em um só dia
carregamos labirintos.
TROVA CÍNICA
A língua a dizer amor,
sofre em tom comprometido:
pois herdamos seu sabor
mais sarcástico que ungido.