Membro de honra
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 Re: A Forma como Responsabilidade do Poeta
Benjamin,
você toca num ponto crucial: há, de fato, no pensamento do Olavo, essa ideia de que sem forma não há arte, e que o "acabar" é o gesto essencial que transforma uma experiência vaga em obra. O artista seria, então, aquele que realiza, que dá corpo ao informe, que verte em linguagem aquilo que, de outro modo, permaneceria inarticulado.
É a partir desse eixo que parto para a afirmação de que, sem o domínio consciente da técnica, a poesia tende a ser obra do acaso. Mas compreendo perfeitamente que isso soe exagerado. O que busco apontar não é a exclusão da intuição ou da experimentação, nem a negação de que existam bons poemas fora do arcabouço estrito das formas fixas, mas sim a necessidade de não confundir liberdade com desatenção formal, o que, infelizmente, é comum entre iniciantes.
Concordo inteiramente que a surpresa, a rugosidade, a tensão criativa escapam muitas vezes aos versos polidos demais. Gosto, inclusive, dessa sua expressão: “quero ser surpreendido e provocado” — creio que define bem a disposição sensível do verdadeiro leitor de poesia. Mas penso também que essas qualidades se potencializam quando há um domínio prévio (ainda que depois transgredido) dos elementos estruturantes do poema: ritmo, corte, tensão, imagem, densidade sígnica, etc. A transgressão tem mais força quando há o que ser transgredido.
Sobre os gregos, você tem razão: não havia rima nem esquema estrófico fixo como os entendemos hoje, mas havia forma, e uma forma altamente exigente. A métrica quantitativa, os pés métricos, as pausas orais, os padrões repetitivos, tudo isso servia a uma finalidade estética e mnêmica. E, acima de tudo, havia o rigor imagético, a precisão da metáfora, o peso do símbolo. Nesse sentido, são os pais da nossa linguagem poética.
Ficarei feliz em ler o texto que mencionou. Sempre me interessa conhecer a sensibilidade de outros leitores que, como você, não apenas leem, mas refletem com seriedade sobre o que leem.
A conversa, para mim, está longe de ser um embate. É uma forma de afiar o pensamento.
Um abraço.
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