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A Forma como Responsabilidade do Poeta
Vivemos num tempo em que a poesia parece ter se emancipado de toda exigência de forma.
Escreve-se qualquer coisa, de qualquer modo, e chama-se isso de poema.
Mas essa liberdade, celebrada como conquista, tem custado caro à própria arte poética.
O que define uma obra de arte?
E o que os poetas precisam aprender com os outros artistas?
No vídeo “O que é uma obra de arte?”, Olavo de Carvalho apresenta seis critérios fundamentais para distinguir uma obra de arte de uma simples intenção expressiva.
Em resumo:
1. A obra de arte possui acabamento – é uma forma finalizada;
2. Essa forma é sensível – pode ser apreendida por um dos sentidos;
3. A obra não apenas tem uma forma: ela consiste numa forma;
4. A forma é a finalidade, não um meio para transmitir uma mensagem;
5. O conteúdo sugerido é irrelevante sem a forma que o realiza;
6. A arte não é uma declaração de valores – ela cria formas que os contêm.
Esses critérios restabelecem o núcleo do que foi perdido na poesia contemporânea: a responsabilidade formal.
E essa responsabilidade se amplia quando olhamos para outras artes.
O que os poetas podem aprender com os outros artistas?
No artigo “O que os poetas podem aprender com os outros artistas?”, Brian Belancieri mostra como o ofício do poeta se empobrece quando se isola da disciplina que rege o trabalho de um músico, de um dançarino, de um ator ou de um cozinheiro.
Todos esses artistas partem de um fundamento comum: o domínio técnico e a dedicação ao acabamento.
Belancieri afirma que a arte é levada adiante pelos “mestres do ofício”, aqueles que mantêm sua produção nos limites da excelência, que educam pela forma e que preservam a arte como legado humano.
O poeta, portanto, não é isento:
tem o dever de escrever bem, de elevar a linguagem e de cultivar a memória viva da poesia.
É nesse ponto que as palavras de Brian ganham peso pedagógico:
> “Um pintor que erra a perspectiva está acabado.
Uma orquestra que desafina não se apresenta duas vezes.
Um escultor inapto não engana ninguém.
Mas, com poesia, parece que tudo é permitido.”
A que se deve essa permissividade?
Talvez ao fato de que o erro na poesia não grita –
ele se esconde.
Ou melhor, é escondido por quem o comete, sob o pretexto do subjetivismo.
Mas esse autoengano é fatal.
Porque o leitor não é responsável por completar a obra.
Quem escreve precisa entregar a forma: precisa alcançar, não apenas sugerir.
Assim, uma obra de arte se justifica pela sua forma final,
não pela emoção que motivou sua criação.
A forma é a instância objetiva onde a poesia se realiza.
Fora disso, tudo é rascunho.
Referências
– Carvalho, Olavo de. O que é uma obra de arte?
Vídeo no YouTube. Disponível em:
https://youtu.be/f68kBM6R9ac?si=dzohJlXlmOLYYSwX
– Belancieri, Brian. O que os poetas podem aprender com os outros artistas?
Newsletter Substack. Disponível em:
https://open.substack.com/pub/brianbel ... m_medium=android&r=1hgj6g
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