Há uma mulher que me habita
e outra que me espreita.
Uma se despede sem ter vindo,
outra acende fósforos na língua
e chama isso de reza.
Sou as que correm,
com os pés cortados
e a boca cheia de dentes.
Sou as que ficam,
mas nunca repousam.
Não me reconheço no espelho,
mas percebo a floresta que ele guarda.
Quando me calo, um bicho dança.
Quando sorrio, uma faca range.
Quando durmo, todas me sonham.
Não me reduzam. Sou pele e avesso,
ruído, sopro, corcéis, ferrugem e fúrias.
Não me dobro ao jogo,
escavo, rebolo, rasgo, amplio o tabuleiro.
Sou a noite que não se deixa ser dia.
E, se mordo, é por fome, susto, prazer ou zelo.