
hoje
fui mais além,
ao norte,
lá no sul do Tejo,
aquela terra
chamada Granja.
uma aldeia
que costumava receber
seus visitantes
com fontes e uma adega.
voltar,
significa destapar goteiras,
tentativas vãs
de fechar torneiras.
visitei o lugar onde brincava mais,
o lugar das duas ruínas:
uma dos tempos dos reis,
outra dos tempos modernos.
meu deus,
aquela lixeira a céu aberto!
hoje só encontrei a mais antiga,
talvez porque a ribeira
[grávida do Alqueva],
se aproximou,
afastando-a da miséria.
foi nesse lugar mágico
que encontrei
o meu primeiro livro
de poesia.
estava sujo,
molhado,
escrito em francês.
estava junto de cartas
de muitos selos
e de papéis amarrotados.
imaginei de quem poderia ser:
talvez de um emigrante,
de um professor,
de um poeta,
de um escritor.
hoje tenho a certeza:
era de um sonhador
que regressava
nas palavras
que escrevia.
hoje sei que tudo seca,
menos as palavras escritas.
refletidas nos olhos
Tejos
“Acredito que o céu pode ser realidade, mas levarei flores para o pai - Erotides ”