Passei os olhos
como quem passa o dedo sobre um vidro embaçado,
só pra ver se ainda há forma.
Sem súplica,
ou aceno.
Só um gesto qualquer,
desses que parecem distração,
mas carregam o peso de uma porta
esquecida na sombra, onde a demora mora.
Ninguém viu,
ou viram e ficaram calados,
como quem assiste a um copo cair,
e espera o som.
É preciso saber,
há coisas que se fazem sem querer retorno,
e mesmo assim deixam rastro,
no prato que não foi tocado,
na carta que não se assina,
no nome que não se esquece,
porque não foi chamado.
Não foi sobre bondade,
nem sobre quem merecia.
Foi sobre manter a janela aberta
e a mesa posta,
no centro do incêndio,
e sair
com a toalha limpa,
dobrada no braço.