Nunca escrevi
Sobre ti.
Era pequeno,
Não o suficiente
Para não perceber
O tom doce da tua voz,
A ternura entornada em mim,
Daquele olhar
Branco, limpo,
Terreado
De mimos.
Olhavas-me
Como
Os pescadores
Olham as gaivotas.
Sabias acalmar o tempo
Quando o choro
Chegava.
Cheiravas
A pão
Pela manhã,
À tarde
A campo,
A terra molhada.
Tinhas um xaile
Que cobria o meu corpo
No lugar mais seguro
De todos:
O teu colo.
Depois,
Tudo
Se tornou
Inseguro.
Recordo as tuas últimas palavras:
"A avó vai deitar-se um pouco, está muito cansada."
Ali, a vida desistiu de ti
Mas não o meu amor.