Sombras Líquidas
Há sombras líquidas em cada canto da rua,
no desordenar de nuvens imprecisas.
Mas as lágrimas são minhas — não são tuas —,
desenhadas pelas tuas mãos, poetisa.
Eu me depuro em marasmo elusivo,
perdido a olhar um ponto no espaço,
sem encontrar sequer um objetivo,
pois apenas amo — e não sei o que faço.
Esta é a tristeza de uma longa espera,
um abandono cruel e perene.
Se já amaste, então não me condenes:
o amor abranda até o coração da fera.
Minha insensatez é amar na loucura
e reinventar meu triste coração partido.
Tão cego, não me importo com a desventura
ao ouvir tua poesia em meus ouvidos.
Não sou sombra líquida na escuridão:
sou o crepitar de uma grande fogueira —
mas que, na verdade, apenas permeia
as cinzas do meu pobre coração.
Alexandre Montalvan