Lundi
Eram nove horas da manhã de segunda feira. Ressacado até a alma, sentado na cadeira de macarrão do Sr. K.
A tarde findava calmamente e não sei como conseguir dinheiro para comprar duas latas de Glacial. estou ébrio. A sra. Vince deu-me dois reais e seu Raposo também.
Mardi
Estou no ar desde domingo e ferrando um e outro. As portas são fechadas.
PARTE DOIS
NO ESTALEIRO
Dessa vez extrapolei todas as medidas e agora estou nessa. Três dias que não me alimento e dois vomitando. Ontem foi horrível cãibras e vomito direto. Ainda estou estonteado pelo uso abusivo de álcool e outras coisitas. Para minha surpresa achei quatro reais debaixo da cama. Perdi o controle e a autoestima, foram dias de muito vacilo pelas vielas da feira, na Praça do Bacurizeiro - esculhambando e sendo esculhambado. A Sra. Vince está uma arara e comigo - Preciso parar com esses vacilos, lembrei-me de Joyce sofrendo com o estomago - e eu uma miscelânea de sofrimentos: os dentes podres, a cegueira iminente, a depressão avassaladora e o atraso nos negócios. Três dias sem trabalhar. A coisa não está fácil para mim, o círculo da vida está se fechando e perdendo o senso da responsabilidade.
O tempo escorre pelos meus dedos e acabo encalhado. Sou uma criatura sem nada, sem amor próprio, sem sonhos, fedendo como um cadáver ambulante andando sem direção, apenas na busca da morte.. A Sra. Vince acusa-me de insulta-la quando estava ébrio - temo não ter feito isso com outras pessoas, embriagado fico com a boca porca e não meço as palavras. Houve um que ameaçou-me dar umas porradas - mandei tomar naquele lugar - Oh! santo Deus - cure-me ou me mate. Estou vacilando demais, é bom parar, mas não consigo - basta pegar uns trocados que a cabeça dar uma guinada de 360 graus e gasto tudo num picar de olhos. Deprimido com receio de sair a rua e encontrar com alguém que insultei. Coço-me todo. Bebi a muito custo um copo de café, as mãos tremiam de fraqueza. reli algumas páginas de "Pastores da Noite" como falavam muito em cachaça, o estomago começou a revirar e a vontade de vomitar - Parei para refletir.
Uma moto acelera bruscamente na rua, os ácaros estão me devorando vivo e concluo a releitura de "Sonhos de Bunker Hill" de meu querido Fante pela enésima vez - as aventuras de Bandini na Los Angeles dos anos 30 me inspiram assim com Chinaski do velho Buk - na cozinha mãe e filha planejam o almoço.
Meio dia nublado, ameaçando chover. Relia o velho Buk "Cartas na Rua" quando fui surpreendido por uma voz: - “Raimundo vem comer!” - era a Sra. Vince convidando-me para almoçar. – “Três dias que esse rapaz não come, tá procurando doença, só bebendo água e vomitando.” - Mas o velho Buk alimenta-me a alma ao mesmo tempo que me instrui de como escrever sem amarras.
Depois de devora-lo, banhei-me, esfreguei-me com a palha que a Sra. Vince usa para lavar as nossas roupas, mas não adiantou a iaca não saiu de debaixo das minhas fedorentas axilas. Vou tentar almoçar.
Comi arroz com caldo de peixe e como sobremesa uma boa laranja. O medo da língua infeccionar - a situação bucal é péssima -. Desanimado em todos os sentidos e as circunstancias não ajudam e quando ajuda me afogo no álcool. De um buraco no telhado incide um raio de sol sobre meus olhos - tudo conspira contra mim, até meus pensamentos. Para aumentar a autoestima posto no facebook o penúltimo capitulo de "Vivendo & Escrevendo" - e começo reler "Monsenhor Quixote" do escritor inglês Graham Greene. Tiro o calção e o lençol do sol que a senhora Vince lavou pela manhã mesma zangada comigo. Aniversario do mestre Bob Dilan - 70 anos