O tempo encosta-se
ao meu corpo
devagar.
Já não dói
é peso
como um nome a esquecer.
Os passos desfazem-se
antes de tocarem o chão
e o eco
[ se ainda existe ]
aprendeu a calar-se.
A luz não ilumina.
Passa por mim
como mãos que não sabem despedir-se.
Há uma morte que não chega.
Ocupa o espaço
entre o meu olhar
e o mundo.
A despedida vem sem rosto.
Acontece dentro de mim.
Um desfiar lento do que sou.
Não há corte.
Somente ausência
a escorrer pelos dedos.
Algo se molda
em silêncio
no outro lado do instante.
Tudo o que fui
perde contorno.
Tudo o que vem
ainda me desconhece.
E aqui
neste intervalo do quase
sou pele
a (des)aprender a memória.