pus o dedo na ferida
húmida, corada
lábios afastados
como quem já oscula
como quem sabe a bula
como quem espera a cura
e tudo diz de dizer nada
estava apressada
de pernas coerentes
e olhos subidos
como quem geme a dor
sem dar ouvidos
à dor tocada
pus a língua na ferida
estava molhada
de boca que emboca
num beijo de troca
como quem lambe a dor
de ser desbridada
pus outro dedo na ferida
estava alagada
de empurrar a cabeça
com mãos que sugam
como quem unta a dor
antes da agulha
cruzar a pele
destratada
pus-me todo na ferida
estava encharcada
de braços de força
como quem solta a dor
por mais que contorça
avança e reforça
a dor hidratada
em fios de ondas
fiz-me sutura
a coser recantos
no fundo aberto
da ferida doada
cosi-me ali
em cura e dor
curador
e a dor sanada
encostamos os pontos
no beijo indolor
e um abraço compressa
selou-nos o peito
como quem dorido
já não sente dor
ama e mais nada
30-08-2025