Poemas : 

Fé de Semente

 
Guardo uma infância intacta
sob o limo das noites que ficaram no hálito.

Não a toque —
ela dorme em posição de semente,
com os punhos fechados
por uma promessa que passou por voz
e não teve chão.

Em mim há uma fé de orvalho:
lambo as pedras onde andaste,
escrevo teu rastro com sal
e bebo todas as cores.

Resisto como as coisas sem nome:
um pássaro cego voando em círculos
ou uma vela acesa num templo
que ninguém mais frequenta.

E mesmo assim —
(ah, mesmo assim)
quando o mundo se cala como um quarto antigo,
basta um som pequeno
— tua lembrança sorrindo —
e tudo acorda:
o amor ninho,
a criança,
o abismo,
tu,
eu.

 
Autor
Aline Lima
 
Texto
Data
Leituras
54
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
10 pontos
0
1
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.