Guardo uma infância intacta
sob o limo das noites que ficaram no hálito.
Não a toque —
ela dorme em posição de semente,
com os punhos fechados
por uma promessa que passou por voz
e não teve chão.
Em mim há uma fé de orvalho:
lambo as pedras onde andaste,
escrevo teu rastro com sal
e bebo todas as cores.
Resisto como as coisas sem nome:
um pássaro cego voando em círculos
ou uma vela acesa num templo
que ninguém mais frequenta.
E mesmo assim —
(ah, mesmo assim)
quando o mundo se cala como um quarto antigo,
basta um som pequeno
— tua lembrança sorrindo —
e tudo acorda:
o amor ninho,
a criança,
o abismo,
tu,
eu.