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 Re: CAIXA DE FÓSFOROS p/ RicardoC
Bom dia, cara Aline Lima.
Como admiti no poema anterior, sou um homem de pouca leitura que se mete a fazer poesia sem pretensões literárias. Para minha vergonha, admito, não li Faulkner...
Penso que minha imagem da caixa de fósforos, bem mais modesta e desesperada que a esperança que a d'ele evoca, remete antes ao conto de Hans Christian Andersen, A menina dos fósforos. Sempre que leio esse conto, eu vacilo entre considerá-lo tristíssimo ou inverossímil. Mas quem sou para julgar? Não vivo n'um país de invernos rigorosos! Não tenho como saber se é verossímil a débil tentativa de se aquecer por fósforos n'uma noite gélida. Parece-me puro desespero diante da indiferença do clima e da sociedade.
Longe de mim evocar a trajetória do poeta como uma morte lenta como a da menina de Andersen. Evoco antes seu desespero em face da indiferença; evoco a inutilidade de seus esforços por luz e calor em face da frieza do vento e dos outros. Manter o fósforo aceso na escuridão e vê-los se apagarem, um a um, até esvaziar a caixa, não é redentor, sim teimosia. É negar-se a desaparecer no escuro sem luta. Quando escrevo, tenho consciência plena do Olvido a apagar cada verso à medida que os anos passam. Escrever um novo poema é acender mais fósforo e mantê-lo aceso até que o nada volte a imperar.
Agradeço, caríssima, tua leitura atenta e a generosidade do comentário, cuja alusão ao laureado autor estado-unidense muito me impressionou, apesar de minhas limitações literárias.
Abraços, RicardoC
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