Poemas : 

LiMal(has)?

 
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falo-vos de certa prudência
nas tentativas de domesticar o verso
a repetição impertinente do disco
à velocidade de rebarbar as (de)terminações
a arredondar-lhe arestas
gera poeiras e detritos nocivos
as limalhas ferem a vista
e se antes mal via as palavras eriçadas
agora dorido
o olhar tende a fechar-se
e nada verá, nada lhe chegará
nada que seja verdade
a alma que quer ver
não ousa moldar as essências
apenas lhes segue as formas
dá-lhes o domínio
até aprender a dominar(-se)


21-11-2025


 
Autor
AlexandreCosta
 
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Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 22/11/2025 12:42  Atualizado: 22/11/2025 12:42
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Mensagens: 865
 Re: LiMal(has)?
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A domesticação do verso lembrou-me um poema do Eugénio de Andrade, que reproduzo a seguir. Abraço amigo!

"Agora as palavras", de Eugénio de Andrade

Obedecem-me agora muito menos,
as palavras. A propósito
de nada resmungam, não fazem
caso do que lhes digo,
não respeitam a minha idade.
Provavelmente fartaram-se da rédea,
não me perdoam
a mão rigorosa, a indiferença
pelo fogo-de-artifício.
Eu gosto delas, nunca tive outra
paixão, e elas durante muitos anos
também gostaram de mim: dançavam
à minha roda quando as encontrava.
Com elas fazia o lume,
sustentava os meus dias, mas agora
estão ariscas, escapam-se por entre
as mãos, arreganham os dentes
se tento retê-las. Ou será que
já só procuro as mais encabritadas?