quero a tua figura
para trás
e para diante,
e essa procura,
que cada um faz,
eu faço a passo de gigante
quero ser paisagem,
ser desfocado, coisa sem foco,
sombra difusa,
aragem
em que toco,
que ninguém usa
quero não ter fala
e pensar o nulo,
ser o que preenche vazios
e que a tudo se iguala
num pulo,
sem arte, nem desafios
quero sem querer,
ser corpo presente
que desaparece,
que não chega sequer a ser
algo que alguém invente,
tece
quero estar por estar,
fazer falta ao enredo,
fazer parte da trama,
tal, como um respirar
que não inspira medo
mas toda gente chama
quero
e esse desejo meu é a minha perversão,
para o qual não fui feito,
sou, apenas para ser o que espero,
sem ser lição,
imperfeito
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.