Poemas : 

Teleromance

 
O conto que me contavas
encheu-se de versos
e pareceu uma novela,
e ela por ela,
rezaram-se terços
de joelhos e contadas favas.

A novela aparente
respirava emoção
e crescia como infante que se amamenta;
verso ante verso na mente
tinha ares de canção
em que se canta sal e pimenta.

Estava à vista
e a lente lenta travava a língua na boca;
arde de manhã, de tarde, de noite,
num sempre criado por artista
[coisa louca]
Açoite.

Num cem número de capítulos
houve espaço para uma história a dois:
suor, sexo,
paragonas e títulos
sem antes nem despois
e, até, alguma falta de nexo.

Num infinito de palavras caras e baratas,
crias que fosse um romance
e a última frase, antes do Fim, era cheia.
Entre desertos e matas,
rios e marés de longo alcance
era uma epopeia.



Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
Data
Leituras
23
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.