Poemas : 

Teleromance

 
O conto que me contavas
encheu-se de versos
e pareceu uma novela,
e ela por ela,
rezaram-se terços
de joelhos e contadas favas.

A novela aparente
respirava emoção
e crescia como infante que se amamenta;
verso ante verso na mente
tinha ares de canção
em que se canta sal e pimenta.

Estava à vista
e a lente lenta travava a língua na boca;
arde de manhã, de tarde, de noite,
num sempre criado por artista
[coisa louca]
Açoite.

Num cem número de capítulos
houve espaço para uma história a dois:
suor, sexo,
paragonas e títulos
sem antes nem despois
e, até, alguma falta de nexo.

Num infinito de palavras caras e baratas,
crias que fosse um romance
e a última frase, antes do Fim, era cheia.
Entre desertos e matas,
rios e marés de longo alcance
era uma epopeia.



Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

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Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 06/08/2025 09:58  Atualizado: 06/08/2025 09:58
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 Re: Teleromance p/ Rogério Beça
Era e é certamente uma epopeia. O título mete medo, retrai e, na minha opinião, embora inócuo para o poema, passa ao lado. Mas depois lê-se, absorve-se e, no bom sentido, regorgitam-se imagens e sons quase onomatopaicos que embelezam o próprio Teleromance.