O conto que me contavas
encheu-se de versos
e pareceu uma novela,
e ela por ela,
rezaram-se terços
de joelhos e contadas favas.
A novela aparente
respirava emoção
e crescia como infante que se amamenta;
verso ante verso na mente
tinha ares de canção
em que se canta sal e pimenta.
Estava à vista
e a lente lenta travava a língua na boca;
arde de manhã, de tarde, de noite,
num sempre criado por artista
[coisa louca]
Açoite.
Num cem número de capítulos
houve espaço para uma história a dois:
suor, sexo,
paragonas e títulos
sem antes nem despois
e, até, alguma falta de nexo.
Num infinito de palavras caras e baratas,
crias que fosse um romance
e a última frase, antes do Fim, era cheia.
Entre desertos e matas,
rios e marés de longo alcance
era uma epopeia.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.