Há uma ironia sutil no avanço:
Quanto mais evoluímos,
Mais o passado se torna indecifrável.
Não por falta de memória,
Mas porque a mente que recorda
Já não é a mesma que viveu.
O que chamamos de lembrança
É apenas o presente tentando compreender
A linguagem de um eu que não existe mais.
A degradação do passado não é falha da memória,
É sinal de que crescemos.
A erosão dos significados antigos
É o tributo pago por cada passo adiante.
Somos seres em constante tradução,
E o passado
É um idioma que esquecemos aos poucos,
Não por negligência, mas por evolução.
Talvez o verdadeiro desafio não seja recordar,
Mas aceitar que não há como retornar
A algo que já foi desfeito
Pelo simples fato de termos mudado.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense