Prosas Poéticas : 

"Sou Uno"

 
A unidade é uma cerca que começa quando eu acabo.
Olhos de dragão tingem desolados pesadelos consumidos da alma errante que me vestiu.
No céu, reflectiu, onda de mar saboreia com lábios desdenhosos a aventura deste caderno onde vou tomando anotações deste tempo desatento, onde me cerco, rodeando multidões.
A unidade é um amor que começa quando naufrago.
A unidade do espírito banaliza-me, momento, vibro à pequena passagem das mãos que me enfeitam, terapia suaviza as linhas do corpo, sento-me...
Já chega!
Perdoem-me as incertezas, sou homem nesta aventura e desatino, carnaval de cores alheias, vestem o espírito, sou um sabor nos lábios descontentes, dor premente, presente sem futuro abraça o corpo despido, onde me deito...
Foram-me tão queridas, todas as viagens de silêncio que corpo aventurado se afoga em mim, inocente.
Foram maravilhosas, descontentes, palavras, pecado os meus lábios lapidam os pedaços de vidro teus olhos mastigam.
A lâmina dos meus pulsos, viola as palavras que adormecem nesta mesa redonda que enfrento.
A mesa do mundo!
Fatal, irreal, ficção desembrulha a laços sangrentos, oferenda dos homens crentes, sonho imaculado as mãos que me rodeiam, correndo aflitas para o meu corpo, unânimes e descontes, a cerca, olhos de serpente.
Meu pecado...
Provo o fruto do silêncio, acariciando as paredes assombradas, lugar de tantas ausências, os meus olhos são vivos, percorrem com sede, sufocando, o pequeno quarto guarda segredos... Os meus medos!
Sou náufrago da vida, velejando para um lugar qualquer, a minha liberdade começa quando Deus determina.
Alma passageira, esta, a minha, entorna nos copos escravos, pequenas lágrimas de decência.
Sou presente apavorado com o futuro que é o pequeno segundo que transforma o tempo em minutos devorando as horas.
A unidade é uma cerca que se fecha quando desabafo.
Perdoem-me... Perdoem-me, se eu... Se fui eu próprio não querendo olhar, tormento.
Perdoem-me quantas vezes forem necessárias, que o espírito vive além das muralhas, o presente descontente assombra as portas do futuro ausente.
Perdoem-me... Perdoem todos os homens, os homens que sonham, que transformam, que devoram silenciosamente o sabor da mágoa.
Ajudem-me... Ajudem-me.

Paulo Themudo

www.paulothemudo.com
www.kapacidade.no.sapo.pt

 
Autor
Paulo Themudo
 
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Enviado por Tópico
AnaMariaOliveira
Publicado: 12/07/2008 20:35  Atualizado: 12/07/2008 20:35
Super Participativo
Usuário desde: 19/06/2008
Localidade: Lisboa
Mensagens: 158
 Re: "Sou Uno"
Rendo-me ao artista, ao poeta!
E... não necessita de ajuda! Está muito bem assim!
Uma alma vibrante!

Abraço

Enviado por Tópico
flavio silver
Publicado: 12/07/2008 20:29  Atualizado: 12/07/2008 20:29
Colaborador
Usuário desde: 24/09/2007
Localidade: barcelos
Mensagens: 1001
 Re: "Sou Uno"
SIM, UMA PROSA POÉTICA BEM APURADA.
GOSTEI E GOZEI CADA PALAVRA.
ESTAREI ATENTO ÀS SUAS PRÓXIMAS POSTAGENS.
ABRAÇO