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Crónica #8

 

Na nossa última crónica, de cultura ou do seu défice falámos. Que não se pense que a nossa atitude é um nostálgico desejo de regresso a obscuros tempos de antanho.
Sem cepticismo, aguardo resultados de uma certa massificação cultural. Tenho uma grande expectativa e – não nego – algum optimismo, pelas consequências – que não podem deixar de ser positivas – de tanto livro a ser vendido em supermercados, provocando a modificação do estilo promocional das próprias livrarias, tornando-as mais abertas e atractivas.
Nos meus tempos de menino, líamos tudo o que a mão pudesse alcançar, desde as bandas desenhadas dos jornais à chamada literatura de cordel, como os livrinhos de “cóbois” trocados entre colegas, os empréstimos das bibliotecas escolares devorados à luz de lanterna depois da mãe apagar a luz do quarto, os romances de capa mole das tias, etc, etc.
Diz-se que nestes tempos de parafernália áudio-visual está instalada a preguiça da leitura. Tenho alguma dúvida sobre essa afirmação. O panorama editorial nunca foi tão diversificado, e o marketing dos livros é eficaz, integrado com os produtos culturais multimédia. Daí a minha curiosidade em estar atento aos resultados.
Quantas serão as crianças e jovens leitores de hoje que nos surpreenderão amanhã? Se ao ouvinte esta é uma pergunta que possa aparentar apenas interesse estatístico, esclareço que se entenda que a resposta à questão teria um significado muito mais amplo.
Seria uma forma de saber qual o reflexo das influências dessas leituras, sobre jovens mentes inquietas, atentas a um Mundo complexo, eventualmente desafiadas pela dinâmica dos antagonismos, ajudando-nos a perceber até que ponto a sua criatividade natural terá sido estimulada.
Tenho como certo que a expectativa na Juventude continua a justificar o nosso optimismo. Se o atrevimento natural dos jovens – e o mesmo se diga dos criadores culturais em geral – se deixasse inibir pelas interdições de um Mundo tabelado, feito à conveniência dos negócios, a própria literatura seria reduzida a uma ciência árida e a poesia tornar-se-ia clandestina.
Num Mundo sem Sonho, sem Cultura, entraríamos no obscurantismo, seríamos rapidamente espoliados da nossa própria Vida.


José Jorge Frade

 
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