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FAÇO PROPAGANDA À MINHA MORTE

 
Faço propaganda à minha morte em letra maiúscula de propósito.

Roubaram-me.
Roubaram-me o amor verdadeiro com palavras mansas e dei-me conta que a verdade não agita um cravo no meio da revolução. quero cimentar as feridas e construir um muro de berlim com a dor. Se for preciso ergo o meu cabelo, calço uns chinelos, ponho uns óculos amarelos e canto a paz e o amor. quanto ao resto acabou, julguei que era bom ter um irmão mas a pátria roubou-mo.
Qu'é da pátria afinal? está na etiqueta dos gestos, no perfume caro que compraste, nas sapatlhas converse e nada, nada me sabe agora ao velho e pisado vinho do porto. Até isso roubaram estes filhos da mãe.
Eu gosto de mim como sou, mãe, filha, avó (avó ainda não mas hei-de ser) e gosto-me como leitora, compradora, consumista, anarquista, enferma, doente. Gosto-me e pronto. Sei que enlouqueci mas o que é um escritor senão a sua loucura? Porque vós pobres sãos ainda não sabeis escrever a alma de pessoa ou o corpo de espanca, porque vóis manjais o orgulho, a fama e vestis a vossa pele com a hipocrisia de um derrotado patriotismo.
Eu calo-me porque a revolução de abril à muito que ma roubaram. Bateis-me e eu calo-me. matais-me e eu calo-me mas às minhas palavras não lhes chegais com a mão, não as matais porque já morreram.


FAÇO PROPAGANDA À MINHA MORTE EM LETRA MAIÚSCULA PROPOSITADAMENTE, COM A MESMA RAPIDEZ COM QUE ME DERAM VIDA HOJE ME MATAM. SOU UM PERSONAGEM, UM HETERÓNIMO E ISSO BASTA-ME PARA MORRER FELIZ.

adeus.

 
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matilde
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Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 31/07/2008 18:28  Atualizado: 31/07/2008 18:28
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 FAÇO PROPAGANDA À MINHA MORTE para a matilde
menina matilde é com grande pena que assisto à tua morte. os teus textos enchiam-me de recordação, velhos tempos. ainda assim quem sabe um dia ressuscites.

um beijo em ti,
mar.

P.S. PERCEBI A LETRA MAIÚSCULA

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 31/07/2008 18:39  Atualizado: 31/07/2008 18:40
 Re: FAÇO PROPAGANDA À MINHA MORTE/matilde
...

menina matilde.

compreendo a sua revolta e desapontamento.

mas pense um pouco, se lhe aprouver é claro; talvez a pessoa de quem deriva, às vezes, por questões de boa alma que é, certamente, ou ainda outras. dê uma no cravo e outra na ferradura, contribuindo assim de igual modo, para o estado de coisas, que a acabam de matar.

deixo-lhe um generoso abraço, menina matilde.