Poemas : 

[não há palavras proibidas]

 
não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
são pássaros em fogo em suas mãos

que se fodam os versos castrados
nados do servilismo
do comércio
das trinta moedas de judas
traindo o poema
ferindo-o de morte

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
nascem para ser ditas ser cantadas

até as putas
que se exibem nas dobras do poema
em cujas tetas mamam as metáforas
as luminosas jóias da coroa
ocultas em quarto fechado
bem longe da plebe
merecem o olhar do poeta

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
são pétalas brilhando para o sol

e digo
que não se vire a cara ao miúdo
que esmola pede à beira da estrofe
nas suas mãos respira o verbo
a palavra fome
e há que dar-lhe espaço
no corpo do poema
que salta para a rua como pedra
contra as vidraças da indiferença

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
têm no olhar a urgência do parto

e reclamo exijo
que todas as palavras se amotinem
não temam o chicote o capataz
a voz dos bufos dentro das paredes
porque é arma o poema
granada que rebenta nos sentidos
quando as palavras livres esvoaçam

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
mas todas as palavras são das ruas



Xavier Zarco
www.xavierzarco.no.sapo.pt
www.euxz.blogspot.com
www.xavierzarco.blogspot.com


 
Autor
Xavier_Zarco
 
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Enviado por Tópico
MariaSousa
Publicado: 07/08/2008 22:05  Atualizado: 07/08/2008 22:05
Membro de honra
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4038
 Re: [não há palavras proibidas]
Um grito forte de Poeta.

Enviado por Tópico
Bruno Sousa Villar
Publicado: 07/08/2008 22:10  Atualizado: 07/08/2008 22:10
Da casa!
Usuário desde: 09/03/2007
Localidade:
Mensagens: 429
 Re: [não há palavras proibidas]
Um poema é um nome
matinal escrito a
dedos na vidraça
do orvalho ou
um tijolo no vidro
da montra
do preconceito.

Um poema é isto,tudo e nada.
Trompete de alvorada
e clarim de guerra

É isto um poema,
mais do que a
própria vida,

É isto um poeta.

-----------
Gosto muito
do que escreve.

Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 07/08/2008 22:39  Atualizado: 07/08/2008 22:39
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3560
 Re: [não há palavras proibidas]
Em cada palavra escrita, uma-a-uma, há rebelião de sentidos, dão razão e nome àquela dor que é ser-se poeta.

absolutamente memorável!

Beijo

Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 07/08/2008 23:02  Atualizado: 07/08/2008 23:02
Colaborador
Usuário desde: 08/02/2008
Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: [não há palavras proibidas]
Sim, das ruas as palavras, livres, nas mãos de um poeta sapateiam em nossos sentidos! Como aqui!

Muito bom.

Amora

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/08/2008 07:03  Atualizado: 08/08/2008 07:03
 Re: [não há palavras proibidas]
Primeiro a literatura, a poesia neste caso. O bom gosto, o belo, o talento poderão existir em qualquer forma, usando todas as palavras, indiscriminadamente, com incontida liberdade. Depois as armas...!O valor literário está aqui assegurado e o resto dá para entender...cuidado com os inocentes e os ouvidos castos. Abraço.

Enviado por Tópico
jessé barbosa de oli
Publicado: 20/08/2008 18:39  Atualizado: 20/08/2008 18:40
Da casa!
Usuário desde: 03/12/2007
Localidade: SALVADOR, Bahia
Mensagens: 334
 Re: [não há palavras proibidas]
magnífico e inefável poema. na verdade,
uma excelente apologia da poética da liberdade.
em derradira análise, este poema
diz que a poesia não pode ser castrada por
fronteiras nem amarras da ditadura do falso moralismo.

Enviado por Tópico
jlpf
Publicado: 24/08/2009 03:06  Atualizado: 24/08/2009 03:06
Super Participativo
Usuário desde: 16/02/2009
Localidade: Lisboa
Mensagens: 137
 Re: [não há palavras proibidas]
Não há palavras proibidas, mas por certo concorda comigo que um poema por vezes necessita de ser regrado. Até a combinação de caracteres não é porventura aleatória, formam termos e palavras. Pois há palavras proibidas. São as não-palavras, as que não constam nos dicionários mais elaborados, e são aquelas cuja pronunciação é imperceptível ao plebeu falante de uma certa língua. Não é a moralidade que impede a proliferação da palavra proibida, é a Regra e a Ordem.