Crónicas : 

A CONQUISTA DO PRAZER

 







Ter as rédeas da vida, do pensamento? Ilusão é pensar que podemos ter o controle nas mãos. O da TV ainda é disputado onde há mais de uma pessoa. Soltas as amarras, os medos, deixados de lado questionamentos inúteis, já que resultam do nosso egocentrismo, então olhar a vida como espectadores que se reconhecem nos dramas protagonizados podendo assim perceber a inutilidade de resistir à correnteza e percebendo que nesse aparente caos existe uma ordenação acima do nosso entendimento , cujos reflexos captamos vagamente. E o tédio parece ser um subproduto de nossas mentes tão voltadas para jogos do intelecto, para os embates com questões áridas de puro exercício de idéias, em detrimento de atividades puramente sensoriais. Explorar o mundo exterior e reconstruí-lo dentro de nós, pode trazer momentos de puro deleite contemplativo. Tocar a vida sentindo nas mãos a vibração de outro corpo ainda é uma experiência incomparável. A cilada em que nos enredamos ao avaliar em demasia vontades, desejos, anseios, ao procurar respostas naquilo que outros escreveram para recontar suas impressões da vida, de valores, procedimentos, torna-se o refúgio perfeito aos que temem excessivamente arriscar uma mudança onde faz-se imprescindível sujar as mãos na terra do desconhecido. Correr riscos reais é o que torna a vida vibrante, molhar os pés nas águas do perigo faz o sangue correr mais rápido nas veias. Sacrificar a nossa rotina doentia onde as frustrações são compensadas por meios que só as fazem perseverar e crescer. E não são grandes atos, podem ser coisas bem simples como desligar-se dos noticiários vez que outra, jogar jornais no lixo sem dó, passar reto diante da estante de livros, para simplesmente ocupar o tempo com uma caminhada pelo bairro, olhar direto nos olhos daquele que vemos todos os dias mas nunca olhamos direito, ficar uns bons minutos tentando não pensar em coisa alguma. Assim, vencendo pequenas barreiras inicialmente, vamos estar nos preparando para as maiores, aquelas que exigirão maior desprendimento e desapego. Estaremos nos preparando para ir em busca daquilo que todos merecemos: o prazer de estar vivos. Outro dia em pleno entusiasmo do momento, alguém me falou: - Eu tenho certeza de que não viemos ao mundo nem pra construir, nem pra trabalhar ou pra descobrir coisas, eu creio com todas as minhas forças que nascemos para o prazer, somente para isso! Acho que tal afirmativa me fez pensar, principalmente porque eu estava tendo a prova real dessa verdade.






 
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tania orsi vargas
 
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