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A favor da escrita

 
Resolvi dar uma festa. Agora que o fim d’ano já lá vai, e nele entrei como deusa-musa. Resolvi trazer poetas até minha humilde choupana para que através das letras pudesse meu existir engrandecer-se e meu caminhar parecer menos penoso.
Convidei um quinhão deles, brasileiros e portugueses, escritores e escritizes. Todos trouxeram a multa em bebida, que a comida, a terra fértil e bondosa se encarregou de colocar sobre a mesa.
Brindamos ao ano passado, brindamos ao ano porvir, comemos a comida do prato e bebemos a saliva do copo do parceiro do lado, como forma de selar conluio a favor das letras, contra os intrusos que querem pôr fim à inspiração, à perspicácia, à escrita livre, à partilha de emoção pelo juntar de letras em palavras, de palavras em versos, de versos em composição.
Não!… Não! Esses traidores não sobreviverão. Lutaremos com a espada da língua - pátria – mãe, até que nos sangrem as pontas dos dedos, até que o teclado gema de dor repetindo letras em espasmo constante. Enquanto a inspiração em cadeia o permita não desistiremos, não pousaremos a pena, não calaremos a veia.
Mais adiante nossos filhos brindarão a nós e prosseguirão no vício geneticamente impregnado, apenas não mais porão em chaga os dedos, pois declamarão à máquina o poema e este sairá escrito com cores de emoção, pintadas nas sílabas certas que darão ênfase ao que se permite deslumbrar e colocarão pastel no que deverá passar despercebido.
A favor das letras, a favor da escrita, a favor da poesia que permanece para lá da vida.

 
Autor
MadalenaVilela
 
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