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MINHA INFANCIA NA FAZENDA

 

Quando nasci a parteira confirmou
É homem e vai seguir os passos do pai
Fui criado entre vacas leiteiras, cavalos bravos
Correndo livre pelo pomar, horta e pastos

Ainda me lembro daqueles dez bois carreiros
Um a um escolhidos nos ventres das vacas
Todos vermelhos e, como meu pai, tinham estrelas na testa
E dez mães leiteiras, dormiam na sombra do abacateiro

A gente brincava e nadava no riacho de águas cristalinas
Onde no pé de ipê amarelo, cantava o lindo sabiá
E o canto do canário chapinha ecoava no velho grotão
E se misturava com o canto do poeta João de barro

Tinha o trabalho de tratar do gado e amar a filha do carroceiro
Cortar a cana, limpar o milharal e banhar os cavalos
Moer a cana, capinar o canavial e contar as montanhas
Entre pastos floridos, vizinhos queridos de belas morenas

Engenho de cana que até hoje põe-se a moer os meus sonhos
No pasto da baixada, cavalos e homens dormiam juntos
Prá bem cedo subirem a serra dos Madalenas, tão longa serra
Que até hoje na minha memória ainda continuam subindo, nunca desceram de lá

Moinho de fubá de milho, tocado pela água da nascente
Fazenda de lindos cafezais floridos e lindos arrozais
Bravos homens e estradas curvas do Córrego de Ubá
Onde até hoje caminho sempre pensando na velha estrada de terra

Lembranças vivas dos pastos floridos e da velha mangueira
Do primeiro amor e das primeiras orações, ainda sem crença
Das festas dos três santos, todas no mês de junho, santos unidos
Velho paiol onde guardo meus sonhos e a saudade do meu pai



José Veríssimo

 
Autor
veríssimo
 
Texto
Data
Leituras
1944
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