Crónicas : 

Uma dor incómoda

 
Estes pensamentos foram-me sugeridos pelo poema do Henrique Pedro "uma dor de dentes", pessoa que muito respeito. O facto de discordar e contrapôr a sua opinião, prova-o. Daqui o meu abraço de respeito e admiração.

E agora passando ao mote do tema e ignorando alfinetadas ignaras, aproveito para dizer que não me acho o centro do universo, nem nunca olhei para o meu umbigo achando que era mais bonito que outros. Tenho a minha filosofia de vida assente em vivências e duvidas que se foram despoletando á medida que crescia, tenho todo os respeito pelas crenças religiosas desde que elas não se achem as únicas correctas, como tive oportunidade de dizer numa crónica, há elementos comuns a todas as religiões, e depois variam em conformidade com a interpretação dos profetas que lhe deram forma. Não tenho definitivamente respeito pelas vaidades e riquezas que certos membros dessas igrejas insistem em me atirar á cara. Não tenho respeito pela hipocrisia, até de alguns luso-poetas (caro Henrique, ressalvo aqui que não o acho dessa estirpe de pessoas) que batem no peito nestas alturas e no resto do tempo se pavoneiam e se acham donos da verdade como sumidades ultimas do pensamento e da metafísica que só refulge no espaço que os ante-olhos que usam o permite. Sou um cidadão universal observante e temente, não a deus, mas à minha própria consciência, porque ela, e não deus dita os meus passos e me indicam direcções em todos os actos. Não julgo que o universo começou comigo, sei que começou e se perdeu nas memórias do tempo e sei que é a terra que gira em volta do sol, embora os primeiros que o tenham afirmado, primeiro Copérnico, depois Galileu foram forçados a desmentir essa realidade perante a sanha da santa inquisição. Galileu velho havia de admitir nos seus escritos que essa foi a derradeira covardia da sua vida. Eu não concordo com ele, covarde foi a igreja, foi-o com ele, foi-o com Newton ao recusar a sua teoria de evolução das espécies, foi-o ao reconhecer existência de alma aos indígenas só em meados do sec. XVII, foi-o ao negar e fechar os olhos ao holocausto, foi-o quando na ultima visita papal condenou o uso do preservativo, foi-o ao excomungar uma criança de nove anos, foi-o sempre que ostentou a sua riqueza perante os descamisados a quem prega. E não me venham, por favor, com a gasta sugestão que acreditam em Deus e Jesus Cristo só. Quando são as sugestões doutrinárias de uma igreja velha, gasta, hipócrita que seguem porque é do todo que falamos, não daquilo que concordam e deitando fora o que discordam… não é aceitando o óbvio e descartando o que os faz pensar por pura preguiça mental, não é aceitar os milagres descritos da cura de doentes, paralíticos e cegos e nunca se perguntarem porque nunca foi curado um amputado… se assim é fundam uma nova religião persecutora dos objectivos que a vossa consciência dita.
A história e a humanidade se encarregarão de me dar razão quando esta igreja desabar como Jerusalém rendida á usura dos falsos profetas e dos vendilhões do templo. Porque se existe a tal justiça divina esta santidade que os rege já foi condenada, senão será a justiça dos homens e da história a fazê-lo.
E agora quem falou de egocentrismo que explique onde ele está nas declarações que proferi…
 
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jaber
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Enviado por Tópico
Antónia Ruivo
Publicado: 11/04/2009 14:33  Atualizado: 11/04/2009 14:33
Membro de honra
Usuário desde: 08/12/2008
Localidade: Vila Viçosa
Mensagens: 3855
 Re: Uma dor incómoda
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Olha ganhas outro coelhinho e pronto, excelente texto não digo mais, beijinhos




Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/04/2009 16:03  Atualizado: 11/04/2009 16:03
 Re: Uma dor incómoda
EU AMO JESUS CRISTO!

O fato de amá-lo está acima das religiões e sim por tentar seguir suas (dele) palavras.Com sou divinamente humana, sei que não alcanço o Paraíso e vou encontrar contigo e outros pecadores no Orco.
A histórica te daria razão... Se fosses o primeiro a dizer essas palavras, mas como estás na final da fila, serão lembrados somente os que tiverem primeiro a idéia e fizeram tais colocações.
Bjins, Betha.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/04/2009 18:40  Atualizado: 11/04/2009 18:43
 Re: Uma dor incómoda
Caro José Alberto

Seja-me permitido, para melhor ilustrar este comentário, que também me refira a mim próprio, sem que com isso pretenda induzir algum tipo de protagonismo.
Já uma vez, e espero que mais vezes aconteçam, tive oportunidade de me encontrar, frente a frente, com o José Alberto, no decorrer do III Encontro do Luso Poemas. Convivemos com manifesta amizade e simpatia e outra coisa não era de esperar.
Estou no Luso Poemas prioritariamente na qualidade de poeta, e só marginalmente me manifesto como contista, polemista ou comentarista. Nunca, até hoje, o fiz como cronista porque privilegio a poesia. Tão só. Sou um poeta menor, mas um poeta de ideias e sentimentos. Aqui já postei perto de 2000 textos sobre os mais variados temas, à média diária de dois poemas por dia.
O poema “Uma dor de dentes”, que está na base desta salutar polémica, não foi escrito pensando especialmente em qualquer texto do José Alberto, muito embora todos os seus textos mereçam competente reflexão, mas sim nos diversos autores em que tenho percebido um certo acinte, sobranceria, e mesmo escárnio, para as questões da Fé. Muito embora tais atitudes possam não ser premeditadas ou devidamente reflectidas.
Ora, eu sou assumidamente cristão e católico, muito embora grande pecador, pelo que nunca será de ânimo leve que verei cerceada a minha liberdade de pecar. Ou de me santificar!
Também não me proponho, como nunca me propus, defender a Igreja de Roma, ou o Papa, nem ninguém me encomendou tal sermão. Mas sempre procuro que os meus poemas afins exaltam as figuras centrais da religiosidade, não só cristã. Já tive oportunidade de orar numa grande mesquita, e senti a mesma religiosidade de um qualquer templo cristão.
Revejo-me plenamente na doutrina de Jesus Cristo e nos valores que dela emanam e esses sim, estou em crer, enformarão a Nova Civilização para a qual a Humanidade será resgatada. A força deles não reside, se é que algum dia residiu, nos exércitos que mobiliza, nos argumentos filosóficos, no poder da banca, nas bombas que rebentaram em Hiroshima ou continuam a estourar na Palestina. Têm força intrínseca. Jesus Cristo é hoje tão revolucionário como há 2000 anos!
Para mim já é bem clara a separação entre religiosidade e espiritualidade. A História, entre nós, já separou Política de Religião e Ética de Religião. Lamentavelmente a Política parece nada respeitar.
A Igreja Católica, que não necessariamente a de Roma, e o Papa é, à partida, o Bispo de Roma, continua a ter um papel decisivo por esse Mundo de Cristo fora. Na minha aldeia, quando enterra um defunto que não é abandonado como o animal que desumanamente continuamos a atirar para a lixeira, ou num qualquer lar africano aonde introduz um pouco de amor, pão e dignidade.
Os Bórgias ou os Torquemadas não são a doutrina de Cristo. Lamentavelmente poderíamos descobrir, em si ou em mim, se a tanto nos ativéssemos, reflexos dessas tristes figuras. A doutrina de Cristo é dita e praticada pelos seus santos e tantos eles são.
Isto tudo, dito de forma atabalhoada, porque o espaço é curto, pretende apenas ser só um convite para que continuemos a discutir este, e todos estes assuntos com abertura e mútuo respeito. E que nunca percamos o sentido do ridículo e do bom senso, como tantas vezes tem acontecido no Luso. E que aprendamos a distinguir quando estamos a discutir ideias, ou gostos ou mesmo afectos! São os afectos e os gostos que nos aproximam ou afastam e não as ideias.
O que não quer dizer que também não riamos e choremos de alegria, sempre que for o caso.

Um abraço


Enviado por Tópico
mim
Publicado: 11/04/2009 21:38  Atualizado: 11/04/2009 21:38
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 Re: Uma dor incómoda
Gostei desta amizade entre poetas, embora discordando sobre religião um com o outro em vários pontos.
Gostei!
Uma feliz Páscoa aos dois