Poemas -> Desilusão : 

Um grito gravado

 
Enterro meus olhos na folhagem enfraquecida
no assombro da tua imagem
calcada pelos meus passos

áspera ironia
empalidece-te o rosto
condena-te os sentidos

frio, escarpado,
o teu coração jaz como pedra
eternizo nele meu grito
cravado pela chama do tempo

entrego ao vento o meu tormento
lanço ao mar o meu lugar
quero enevoar nas memórias
deixar-me morrer nas histórias

sinto repulsa das lágrimas que fogem
exaustão da elucidação
recalcada pelo peso da pedra
que habita em mim
vou caindo na desilusão

Vera Carvalho


Vera Carvalho

 
Autor
VeraCarvalho
 
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Enviado por Tópico
delfimpeixoto
Publicado: 22/05/2007 16:13  Atualizado: 22/05/2007 16:13
Muito Participativo
Usuário desde: 05/04/2007
Localidade: Portugal
Mensagens: 58
 Re: Um grito gravado
Lindo ! É bom ler-te!
jnhs

Enviado por Tópico
Angela
Publicado: 22/05/2007 16:46  Atualizado: 22/05/2007 16:46
Colaborador
Usuário desde: 28/09/2006
Localidade: Caldas da Rainha
Mensagens: 567
 Re: Um grito gravado
Mais uma lindíssimo poema que nos ofereces querida Vera!

A escolha criteriosa de palavras e imagens cria toda uma atmosfera sombria de tristeza.

Um beijinho grande para uma grande poetisa!

Enviado por Tópico
JB
Publicado: 22/05/2007 18:11  Atualizado: 22/05/2007 18:11
Membro de honra
Usuário desde: 05/09/2006
Localidade:
Mensagens: 531
 Re: Um grito gravado
Vera,
este poema está lindo e definitivo. é um belo texto à medida de uma mulher muito bonita.
beijos
JB

Enviado por Tópico
Mel de Carvalho
Publicado: 22/05/2007 20:39  Atualizado: 22/05/2007 20:43
Colaborador
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa/Peniche
Mensagens: 1562
 Re: Um grito gravado
sinto repulsa das lágrimas que fogem
exaustão da elucidação
recalcada pelo peso da pedra
que habita em mim
vou caindo na desilusão
(Vera)

Mais denso,
mais fundo que o próprio chão
do fundo amâgo de pedra
emerge o grito
que me estrangula o verbo sangue
coalhado verde no ventre,
ácido brilho da garganta.

Sibila em pó a pedra,
a alma estanca e pranta.

Travo a palavra
enterro os pés na folhagem esmaecida
rasgo a tela, queimo aguarela
não permito que a tua imagem
se reflicta.

A alma chora.
A alma grita.

Ao longe o eco povoa o verde prado
na denúncia de um só grito
solto, longo ... cavado, gravado
na água lodosa de um vida! (Mel)

***
Verinha, sabes o quanto gosto de tecer mais umas palavras ao que escreves. Este vício terrível, amiga ... Recebe-o como prova de carinho e apreço ao que escreves.

Bjs da Mel