Poemas : 

[Caro Bocage volta vem daí]

 
Caro Bocage volta vem daí
Pois teus poemas já ardem na fogueira
Que doutas mentes erguem por aqui
Nestes tempos do ter e da cegueira

Sei que queres voltar para os salvar
Das malhas dos maniques modernaços
Dos novos torquemadas desse mar
De corjas de galinhas mas com laços

Laçarotes babetes onde o ranho
Da hipocrisia guardam mas com zelo
São distinções medalhas da sua lavra

Pois não sabem que o mundo é de tamanho
Maior que o seu umbigo e há-de sê-lo
Enquanto houver poema de palavra


Xavier Zarco
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Xavier_Zarco
 
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Enviado por Tópico
Antónia Ruivo
Publicado: 16/06/2009 19:40  Atualizado: 16/06/2009 19:40
Membro de honra
Usuário desde: 08/12/2008
Localidade: Vila Viçosa
Mensagens: 3855
 Re: [Caro Bocage volta vem daí]
Se o Bocage voltasse muita azia ele traria, beijinhos




Enviado por Tópico
António MR Martins
Publicado: 16/06/2009 21:34  Atualizado: 16/06/2009 21:34
Colaborador
Usuário desde: 22/09/2008
Localidade: Ansião
Mensagens: 5058
 Re: [Caro Bocage volta vem daí]
Camarada,

Bocage o maior poeta no estilo "Soneto"...que ele venha daí, nós festejaremos.

Minh'alma se reparte em pensamentos
Todos escuros, todos pavorosos;
Pondero quão terríveis, quão penosos
São, existência minha, os teus momentos.

Dos males que sofri, cruéis, violentos,
A Amor e aos Fados, contra mim teimosos,
Outros inda tristes, mais custosos
Deduzo com fatais pressentimentos.

Rasgo o véu do futuro, e lá diviso
Novos danos urdindo Amor e os Fados,
Para roubar-me a vida, após do siso.

Ah!, vem, Marília, vem com teus agrados,
Com teu sereno olhar, teu brando riso,
Furtar-me a fantasia a mil cuidados.

BOCAGE


Aquele abraço

Enviado por Tópico
Xavier_Zarco
Publicado: 16/06/2009 22:07  Atualizado: 16/06/2009 22:07
Membro de honra
Usuário desde: 17/07/2008
Localidade:
Mensagens: 2207
 Re: [Caro Bocage volta vem daí]
Camarada António,
Bastará dizer: Garret dixit; embora não concorde com ele (embora no seu tempo, sem dúvida que o soneto morrera com Bocage), mas, posteriormente, surguiram Antero de Quental ou Camilo Pessanha que trouxeram esta forma clássica a um nível bastante elevado. Nos nossos dias temos alguns bons cultores do género, como, por exemplo, os meus dois poetas de eleição na Internet: José-Augusto de Carvalho e o censurado José Félix (aproveito a oportunidade para relembrar!)
Muito obrigado por esta oferta, que, espero, outro possam apreciar.
Um abraço
Xavier Zarco

Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 16/06/2009 22:30  Atualizado: 16/06/2009 22:30
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: [Caro Bocage volta vem daí]
Xavier,
Bem ao estilo satírico do meu conterrâneo e poeta de eleição.
Bj
Nanda


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/06/2009 11:11  Atualizado: 17/06/2009 11:11
 Re: [Caro Bocage volta vem daí]
Oh, vós amantes da boa poesia e de Bocage, um dos sonetos de que gosto muito:

"Já o Inverno, expremendo as cãs nevosas

Já o Inverno, expremendo as cãs nevosas,
Geme, de horrendas nuvens carregado;
Luz o aéreo fuzil, e o mar inchado
Investe ao pólo em serras escumosas;

Ó benignas manhãs!, tardes saudosas,
Em que folga o pastor, medrando o gado,
Em que brincam no ervoso e fértil prado
Ninfas e Amores, Zéfiros e Rosas!

Voltai, retrocedei, formosos dias:
Ou antes vem, vem tu, doce beleza
Que noutros campos mil prazeres crias;

E ao ver-te sentirá minha alma acesa
Os perfumes, o encanto, as alegrias,
Da estação que remoça a natureza.

Bocage"

Deliciem-se, que eu faço o mesmo.

Sinto-me bem neste cantinho, aqui mesmo, sabem?

Enviado por Tópico
HelderOliveira
Publicado: 21/09/2016 15:40  Atualizado: 21/09/2016 15:40
Da casa!
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Localidade: Angola
Mensagens: 314
 Re: [Caro Bocage volta vem daí]
Caro Xavier_Zarco, o seu poema "Caro Bocage Volta vem daí" já foi publicado há alguns anos mas só hoje é que tive a oportunidade de lê-lo. De qualquer forma "Vale mais tarde do que nunca!". Bocage está entre nós, nos seus poemas maravilhosos, nos seus pensamentos sempre actuais, no seu protagonismo humorístico. Se Bocage não tivesse existido, o Mundo seria diferente; menos iluminado, mais taciturno.

Aproveito esta oportunidade para convidá-lo a ler um poema que dediquei ao grande Vate. Bastará, para o efeito, que clique no link em baixo.
Um grande abraço do
HelderOliveira


http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=314212