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A Quinta da Comenda

 
A Quinta da Comenda
 
Chegados á Comenda,Carlitos e João trataram de montar a tenda canadiana para passarem a noite. Já tinham idade maior, pelo que os seus pais, confiaram nos rapazes a ficarem fora durante o fim-de-semana.
Ainda era muito cedo, e como a água salgada no Parque das Merendas é bastante má para tomar banho, aproveitaram o facto da maré estar a baixar, para irem pelo seu próprio pé, até á praia mais próxima.

O tempo passou e os dois amigos, não deram por ele passar. Foram então surpreendidos pela maré enchente.
Já estava a fazer-se tarde e precisavam regressar ao Parque das Merendas.Com a maré-cheia a única alternativa de saírem da Praia da Albarquel era utilizar barco, ou então por estrada, mas para isso, tinham de caminhar alguns kms.

Com grande paciência,algumas vezes até nadando, lá conseguiram chegar ao seu destino.

Fizeram uma fogueira junto à praia como mandam as normas e grelharam frango, que a mãe de Carlitos, mandara para os dois amigos. Enquanto comiam, eis que são visitados por um cão vádio. Tinha aspecto de quem não comia, a alguns dias. Surgiu no momento, um homem bastante sujo, com a barba comprida, vestido com trajes marítimos, aparentando ter a idade muito próxima dos sessenta anos.

Chamou pelo nome do cão, mas este,antes estava preocupado em comer um pedaço de frango, que o Carlitos lhe atirara.
Como se chama? -Perguntou um dos moços
- Chamo-me Júlio e o cão é Sécil -Respondeu a pessoa

Não estranharam o cão chamar-se Sécil. Ali bem perto, já dentro da Serra, está uma fábrica de cimento com esse nome.

- O que fazem por aqui? - atalhou o homem

Estamos acampados perto do Palácio da Comenda, mais á noite, estamos a planear ir visitar o Palácio - Respondeu-lhe um dos rapazes.
Não devem lá ir ! É um conselho que vos dou!
- Porquê? -perguntou João
Foi então que o homem pediu permissão aos dois rapazes para se sentar á roda da fogueira para lhes contar a sua história:

O Palácio da Comenda como é conhecido, em tempos pertenceu a um ilustre diplomata francês de nome Jean Armand com estatuto de Conde que o adquiriu em 1872.O conde era apaixonado por aquele sitio, gostava de passar longas horas sentado numa das varandas com vista para o Rio Sado. Após a sua morte em 1919,houve quem garantiu que tinha viste o seu fantasma sentado numa daquelas varandas, acompanhado do seu chapéu de abas largas de que tanto gostava.

Os rapazes ouviam atentamente a história do homem, enquanto a lenha da fogueira parecia querer acabar.

Mas isso é bestial, assim temos um motivo ainda maior para lá ir espreitar - respondeu Carlitos que era o mais afoito.

Deixem-me continuar - respondeu o homem
Sou a única pessoa que passa aqui mais tempo no Parque das Merendas. Já a alguns anos atrás, tal como vocês, tive alguma curiosidade em saber o que realmente estava ali guardado naquele velho Palácio. O que vi não me deixou muito animado. Ainda hoje pouco ou nada me aproximo daquele local.

Numa noite parecida com esta, estava luar e muito calor, resolvi então ir lá dentro satisfazer a minha curiosidade. Sei que mais ninguém estava nas redondezas na altura, porque vejo as pessoas quase sempre abalarem depois dos seus pique-niques. Numa das salas reparei que tinha luz. Não era luz eléctrica porque essa conheço-a bem!

A sala estava iluminada por um enorme castiçal que mostrava um homem enorme vestido de trajes antigos e um chapéu de abas muito antigo.

Não acredito em fantasmas, mas naquela noite até nem tinha bebido sequer um copinho de vinho.
Carlitos e João aperceberam-se facilmente que o homem não estava a inventar aquelas histórias. Já tinham ouvido contar algumas histórias acerca daquele Palácio.

Despediram-se do vagabundo e naquele momento só queriam que chegasse a manhã para levantarem a tenda e irem ás suas vidas. Estranho ou não, em 1963 quando o presidente dos Estados Unidos da América John. F. Kennedy foi assassinado, a sua mulher Jacqueline e os seus filhos estiveram ali hospedados a convite dos descendentes do Conde de Artman.


Gabriel Reis

 
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