CANÇÃO PARA A MINHA VIÚVA

maria ivone,

a sabedoria popular diz que a viuvez é de quem vai, não de quem fica. sendo assim, o testamento já está antecipadamente lavrado.

carinho, minha irmã.

j.

pondo a modéstia de parte, maria fernanda, eu gosto muito deste meu poema. é verdade que quando o publiquei pela primeira vez tive problemas em casa. mas é a forma como encaro as coisas, brincadeira ou não. depois, vou estar morto mesmo. e o que é posso fazer?

beijo,

júlio

sabe, quando comecei no jornalismo, comecei cobrindo crimes. o contato com a morte era direto. e mortes chocantes. o dramaturgo brasileiro nelson rodrigues, autor de frases antológicas, que também foi jornalista, disse uma vez: "A reportagem policial me fez amigo íntimo da morte." acho que também tenho alguma intimidade com a dita cuja. até porque quando o homem lá em cima pede a conta, não tem jeito.

um beijo, doce poeta.

j.

esta belíssima canção do chico foi composta na época da ditadura, quando as pessoas eram convidadas para prestar depoimento na polícia política e corriam o risco de não voltar. como aconteceu com muitos, entre eles o jornalista brasileiro vladimir herzog, que a ditadura usou de um laudo falso para alegar que se suicidara em sua cela. vlado, como o chamávamos, deixou a viúva clarice, que aparece na canção de aldir blanc e joão bosco, O Bêbado e a Equilibrista, cantada por Elis Regina e que se tornou o hino da anistia brasileira: "Chora a nossa pátria, mãe gentil/Choram Marias e Clarices/No solo do Brasil.
gostei da sua lembrança.
beijo,
j.

o que dizer, flavio? hoje você já disse - que a lua tem os seios caídos. puta que o pariu, achei esta imagem genial. é nos moldes da irreverência do nosso oswald de andrade, que tem um poema, feito entre as décadas de 1920/30, que escandalizou muito poeta sensível: "amor/humor",
seguido depois por outro poeta, este já contemporâneo, cacaso, que morreu cedo de enfarto. o poema chama-se Arca de Noé - é isto: "Nasceu/Fudeu" (o fudeu é proposital, ele era professor universitário de literatura e excelente letrista de música também).

abraços,

j.

amigo domingos,

nos dias de hoje, todas as viúvas são alegres. só não quando o morto deixa dívidas. do contrário, no dia seguinte, uma lágrima pra quem foi, um sorrisdo pra quem vem. nem se usa mais chorar.

abraço,

j.

Júlio,

Sem dúvida, e cito, para o confirmar, o título de um belo livro de Rosa Alice Branco: "O Mundo Não Acaba no Frio dos teus Ossos", de que publiquei recentemente no meu blogue Fogo Maduro, o seu poema "O Copo de Heráclito".

DM

da mota,

o título da obra já é genial.não conheço esta autora.

j.

Rosa Alice Branco é uma excelente poeta: cito apenas alguns dos seus livros: A Mão Feliz; O Único Traço de Pincel; Da Alma e dos Espíritos Animais; Soletrar o Dia; O Gado do Senhor, ainda inédito, recebeu o Prémio de Poesia "Espiral Maior", recentemente; O Animal Volátil, em colaboração com Casimiro de Brito.
Foi a última companheira de Egito Gonçalves.
Dela e do Egito, já publiquei, com a sua autorização, alguns poemas no meu blogue FM.

DM