Poemas, frases e mensagens de FabianoReis

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de FabianoReis

Qualquer ruído, qualquer palavra

 
Há falhas naquilo que faço,
quase já posso ouvir meu próprio grito.
Há falta em quase tudo que falo.
Poderia evitar a perda,
mas qual seria o motivo?
Cheguei a esperar a tempestade,
precisava pousar.
Ela não veio, sem referência.
Sabe aquele momento no qual dizem ou escrevem,
“opera por instrumentos”?
É que a derrota chegou em dia de frio e chuva.
Calma, um silêncio triste.
Até estava preparado,
mas não foi fácil.
De certo modo, a chuva até ajudou,
escondeu meu rosto molhado,
abafou qualquer ruído, qualquer palavra.
 
Qualquer ruído, qualquer palavra

Todo dia

 
Incerto parecia já cedo,
chega a frente fria,
quase não há pássaros,
vento no portão, neblina na rua de cima.
O velho Ford não pega, pinga óleo,
cantam as crianças da vizinha,
barulho na casa dos fundos,
o alarme dispara, o ladrão dispara.
 
Todo dia

O que sinto e não deveria

 
O que sinto, sei que não deveria,
Pois de olhos fechados ainda vejo,
Ainda que me cegue o desejo,
Não há escolha, nem poderia.

São traços, farrapos, não desisto,
Pois sei, não deveria, nem mereço,
Mas suas mãos e pele ensejo,
E em seus olhos e boca, insisto.

Há de fazer Sol amanhã,
Hei de esperar a luz cair,
Espero ver o vento correr.

Seu rosto novamente nesta manhã.
Seu olhar, o meu atrair,
Espero o momento de correr.
 
O que sinto e não deveria

O pensamento que não controlo é dela

 
É o que faz respirar.
Nem queria mais,
luz, ar, som, morena
largo, leve a lembrar.

Faço o tempo todo.
Mantenho controle,
sempre que minha mente
já não me pertence.

É que quando a tenho,
a mente, o pensamento.
Ela surge e domina.
Fato é os dois saberem.

É o mais completo desvaneio.
Nunca sou dono do que penso.
Um choque absurdo,
contra qualquer lei.
E o fruto de sonho,
ilha em água doce
e você cercado de grades.
Liberdade só no pensamento
aquele mesmo que não controlo.
 
O pensamento que não controlo é dela

Abandonado

 
Há coisas que não têm valor algum
O sentimento de alguém que erra é um deles.
Só há abandono, tristeza, rejeição.
Eu sou isso. A lembrança do que eu poderia ser.
A total falta de felicidade,
A mais completa ausência de paz ou caminho para ser feliz.
Este sou eu.
Sem qualquer rima, a tragédia anunciada.
Só quem foi abandonado sabe.
Só quem foi deixado para trás sente.
Só quem tem como única força viva a prece.
 
Abandonado

Políticas públicas

 
De repente,
De frente,
Pesa a fome,
Barra o cansaço,
O mecanismo falha.
Há tanta água,
Há tanta sede,
Tão poucas torneiras.
 
Políticas públicas

Lista de culpas

 
Já não sei se espero,
Se ao passar, não olho,
Se ao olhar, não vejo.
Já não sei se encontro,
A garganta seca,
A mente foge,
Sua lembrança encontra,
Seu rosto busca,
A rua iluminada,
De Sol vermelho poente,
De luz de poste nascente.
Em meu inferno particular,
Espero o tempo passar,
Tracejando a terra,
Com listas de culpas,
Algumas minhas, outras não,
Apenas com a voz do lamento.
 
Lista de culpas

Não ouço mais meu violão

 
É inegável. Desde o momento no qual fiquei só,

pouco sou capaz de ouvir.

Se empresto certa dureza imposta pela vida,

sei de mim apenas o necessário: o sentir.

Se quase toda parte de mim sabe deste sentir,

partido por inteiro estou. Sobrevivo.

Sobreviver? Não raro, questiono o motivo.

Nenhum verso tem a estrutura merecida,

Mas nem eu ou os versos têm para onde voltar.

Às vezes eles comigo, outros eu diluído neles.

Quando ela foi, perdi tudo. Não sei o caminho.

Por dias empunhei o violão.

Acordes, notas, tentativas de arranjos.

Como eu, sem afinação…não consigo.

Já não consigo ouvir o próprio instrumento ou voz,

Não há qualquer conforto ou esperança.

O saque do sentir sobre sentidos.

Vejo mas não ouço,

Respiro, suspiro, transpiro.

Parece anestesia, não posso mais.
 
Não ouço mais meu violão

Sem amor

 
Sem som,
Sem silêncio,
Sem sorte,
Sem quase nada.
Sem falta,
Sem gol,
Sem redes e traves.
Sem sopros,
Sem sal,
Sem documentos,
Sem amor,
Sem culpa.

Fabiano Reis
 
Sem amor

Afogados do sertão

 
Apressa,
Represa,
Derrama,
Água,
Chuva,
Afoga,
Invade,
Ruas.

Sem casa aqueles do Nordeste,
Sem água limpa eles também.
Pois vosso governo nordestes
Estranhos, excluídos, ninguém.
 
Afogados do sertão

"Tem pão velho?"

 
Amanhece o dia,
Galo canta,
Os pombos se debatem na calha,
Ela, ao meu lado, com preguiça,
Não levanta.
Passa das nove.
Como se preparado,
O interfone toca,
da cama me toca,
e questiona “tem pão velho?”
Não há como ignorar. Velho?
Enfrento o frio, o medo de abrir o portão.
E lá, menino descalço, mal trajado,
Pobre, pele cinza de vento sul,
Molhado da neblina que não cessa há cinco dias.
Sem sol: sem sorriso, sem sombra, sem samba,
Não há jogo de bola, correria, colorido, nada.
Apenas cinza, casacos, jaquetas,
Carros falhando, aeroporto fechado,
mas não tem pão velho.

Fabiano Reis
 
"Tem pão velho?"

A renúncia do que quero, a renúncia do que sou

 
É como se fosse um daqueles diques,
como um contentor para a água do rio não transbordar.
Não sei. Há tempos não vejo um desses.
Mas é assim que vivo. Sempre a conter.
Conter a mim mesmo.

O querer, aquela, pois só vejo ela.
Sinto, eu aqui, a renunciar.
Não deixo um dia sequer passar:
de chuva, calor, colorido ou cinza.
O que faço é isso. Renuncio.

Pela ordem social, pela culpa, pelo medo,
pelo dia nublado, por amor também, não faço o obvio.
Então, mato um pouco de mim,
mato um pouco a esperança,
Não tenho mais para onde voltar.

Os dias chegam, prometem mais,
como sabem, desisto deles.
Espero alguém ou algo, fazer o que não faço.
Renuncio de novo,
renuncio o sonho,
desisto de mim,
morro mais um pouco.
Todo dia.
 
A renúncia do que quero, a renúncia do que sou

Quando morre a esperança

 
Por mais que eu queira
e ainda sonhe.
E possa nem lembrar da noite
por esperar amanhecer e vê-la.
Minha sede em nada é liberdade.
Meu querer, inalcançável.
Está certo. Eu sei.
Lembro quando nasceu isso.
Resisti, mas algo lançava para aquilo.
Esperei acontecimentos.
Muito surgiu.
Nada suficiente.
Amor que sei, ausente,
amor silencioso.
Não há esperança em mim.
A que tinha, morreu em fotografias.
Sufoca a imagem, a palavra escrita;
Parte de mim quer insistir,
acredita, apesar da dor causada.
A outra, a que escreve agora,
silencia e esconde o rosto.
 
Quando morre a esperança

Escadaria da escola

 
Na descida do prédio,
Os olhos em suas paredes de tijolos vermelhos,
O piso escorregadio e corrimão preto.
No lance de escada do segundo andar
Uma janela enorme,
De lá eu via o mundo,
Eu via a praça da outra rua,
O calor do sol que entrava pela vidraça.
Ouvia as meninas, os outros garotos,
Era sempre antes das 9h30.
Para poder descer sozinho,
Imaginar o que poderia ser
Sem ninguém ou quase ninguém.
É assim que lembro.
Faz quase vinte anos que sai de lá,
Mas ainda desço os lances de escada,
Ao final deles ainda vejo a moça loira
Esperando por mim na arquibancada.
O nome? Claro, ainda sei.
 
Escadaria da escola

Chuva no Pantanal

 
Fecha o laço
Lança galope,
O chapéu cai, camisa estufa,
Pisoteia, contorna e corre,
Aperta a cela neste estufador de camisas.
Bezerro que não mais berra, rastro de onça.

A chuva desaba, mistura com o rio e enxurrada,
Tem central de cerca caído,
O gado corre, o corixão derrama,
o Sol atenta, o tereré anima.
Peão acode, a boiada corre,
Terra molhada, fazenda alagada,
Anoitece, descansa o dia no Pantanal.
 
Chuva no Pantanal

Gente que foi embora, gente que não venceu

 
Sobre a mesa empoeirada,
Sem arrumação há dias,
O quadro de moldura nova:
Reprovado.
As fotografias em papel:
Envelhecidas.
O caminho não mostra o tempo,
As escolhas não determinam ninguém,
neste processo de coisas,
Nada importa se não brilha,
Não funciona se não vence.
 
Gente que foi embora, gente que não venceu

Aquilo que ignoro e sou

 
Apenas deixo de lado no tempo,
Ainda assim não esqueço.
Pois se me perco em linha reta
É porque sou eu capaz de me redefinir.

Deixo de lado também, ainda que por agora,
Aquilo que erro, mente ou levar a enganar.
Pois já nem doem mais os joelhos de tanto sangrar.
Sou aquele que se engana e convive com a consistência de cada erro.

Devo também ignorar o reverso de cada verso ou frase,
Pois se aquilo e isto que penso e escrevo define quem sou,
Melhor ainda fala por mim o que pensei e calei.
De sua maneira, resguarda cada trecho do caminho que refaço.
 
Aquilo que ignoro e sou

Sozinha

 
Nada mudava sua forma de ver,
Mesmo entre tantos, sozinha.
De fato, já se acostumara,
No que se é e o que se parece,
Às vezes, nem sabia,
Mas um se mistura no outro,
E já não se sabia o que era verdade.

Pensa em aceitar, ser, de fato, sozinha...
Mas precisa da aparência,
Ou ainda, já não se lembra como era,
Não se imagina sem a mentira.
 
Sozinha

Fora dos campos

 
Desenganos sopram do fim da tarde em grandes
Campos de vacaria, carros que passam, em teu horror.
Trânsito insuspeito, travados, reles, deselegante.
Descuidado, estância de ressacada de rio, raio de temor.

Acaba com um sentir, desprevenido, solto,
Fala de fins soprados em sol penetrou vermelho
Derrota flagrante, loucos de vinho morto.
Seus olhos disseram não, acenava casaco negro.

Com vento, balança, na boca, canta, o fogo, o corpo.
Deságua rio, pois diz eterno, ainda que não vida.
Voa com direção, mas baila sem chegar ao porto.
Andavas, tropeçavas na lentidão da avenida.

Era normal, suas subidas, raras ruas, paradas de sinal.
Os jornais, bancas, bancos das praças, o fim da tarde.
Lutam, ladeiras, preces perdidas, caminho tão leal.
Já não chora, não leva de volta, às 13 horas em parte.

Fabiano Reis
 
Fora dos campos

Atormentar a dor

 
Apesar dos perigos,
Apesar do medo,
Ao passar do tempo,
Ao ler o já lido,
Acertar a testa,
Aceitar o carinho,
Atormentar a dor.
 
Atormentar a dor