PROMESSA
PROMESSA
Vamos dormir bem juntinhos
No chão de uma praia qualquer
Fazer da areia cobertor e ninho
Que nos aqueça quando o frio vier
Ver estrelas durante os beijos
Mesmo que não estejam no céu
Corar a lua com nossos desejos
E adoçar o mar, com nosso mel
E antes do espreguiçar da aurora
Bocejar sonhos em conchinhas
Até que chegue o dia e a hora
De contarmos pelo mundo afora
Que no teu castelo, eu sou a rainha
E na tua vida, sou tua senhora
Milene Sarquissiano
TSUNAMI
TSUNAMI
Milene Sarquissiano
Olha, seu moço
já virou rotina
esse papo de chacina.
Isso é coisa que eu ouço
desde os tempos de menina
quando eu era direita,
bonita, e moça feita.
Quando as vozes do morro
imploravam socorro
nos ouvidos surdos
dos homens mudos,
os chamados "doutores"
que faziam horrores
inclusive vistas grossas
pra certos assassinos.
E nas raras vezes
que entravam na favela
nos passavam em revista,
nos chamavam de cadelas
mandavam fechar a boca
e só abrir pra comer
o senhor sabe, o quê...
Olha, seu moço
nunca tive diamante
mas era ajeitada e limpa,
limpa por dentro e por fora,
era bonita e elegante
tinha mais dentes que agora
tinha motivos pra sorrir
e até uma cama pra cair.
Hoje só caio na real
sem direito a aviso prévio
sem direito a tropeçar
primeiro nos meus sonhos.
Tá difícil, seu moço...
Sem trabalho, dou trabalho.
É barra segurar a onda
quanto mais toda a maré.
Então vou morrendo em vida
afogada em tristezas,
afinal...
nadar contra a Tsunami, quem quer?
AMOR SEPULTADO
AMOR SEPULTADO
Tenho o olhar perdido
Num céu de coisa nenhuma
Nada mais me importa
A lua é imagem morta
A rede que embalou sonhos
Balança ao sabor do vento
Sacudindo velhas ilusões
Ofuscando a luz dos lampiões
Até o riacho calou-se
Inundado por tanta tristeza
Engoliu em seco a dor
E murchou, cúmplice à flor...
Vagalumes revelam o breu
Tingindo a noite de dia
São flashes de nostalgia
Fotografando a agonia
Uma lágrima desliza
No leito triste da face
Pra lembrar que és passado
Amor morto...sepultado!
Milene Sarquissiano
SOBREVIVÊNCIA
SOBREVIVÊNCIA
Ainda que cortem minhas asas
Minha imaginação seguirá voando...
Ainda que me tirem as pernas
Seguirei andando de cabeça erguida...
Ainda que me arranquem os braços
Eles estarão sempre abertos e abraçando...
Ainda que me ceguem os olhos
Continuarei enxergando amor em tudo...
Ainda que me tapem os ouvidos
Escutarei sempre o meu coração...
Ainda que me calem a boca
Levarei a minha palavra adiante...
Ainda que me tirem todo o ar
Eu respirarei poesia...e sobreviverei!
Milene Sarquissiano
MUSA
MUSA
Lua,
Me deixa ser teu céu
Pra que imensa
Eu te pertença
E tu me habites
Infinitamente...
Tua,
Me deixa ser teu universo
Posto que tu já és o meu
Eternizada musa
Nos meus miúdos versos
Milene Sarquissiano
JARDINEIRO
JARDINEIRO
Olha menino, que lindo!
Ganhei um jardim
Não um jardim qualquer
Um jardim de versos
Coloridos e perfumados
Ornado com delicadas rimas
E regado de gentis sutilezas...
Olha menino, que lindo!
Estrelas faceiras e arteiras
Fazendo cócegas nos sonhos
Enchendo olhos de sorrisos
Cegando infelicidades...
Olha menino, que lindo!
Beijos colhidos agora
Metricamente embrulhados
Em lágrimas de saudades
À espera dos lábios de mel
Onde docemente morrerão...
Olha menino, que lindo!
Nuvens vestidas de asas
Debruçadas sobre o arco-íris
Voando esperanças coloridas
Tingindo o cinza de poesia...
Olha menino, que lindo!
A lua caindo feito pingente
No colo da dama-da-noite
Seduzindo a madrugada
Molhada de tanto sereno
Viste menino, que lindo?
Esse jardim mora em mim
Queres ser meu jardineiro?
Milene Sarquissiano
LÁGRIMA DE UVA
LÁGRIMA DE UVA
Milene Sarquissiano
É a vontade de te beber
que faz escorrer essa lágrima de uva
dos meus lábios rubros.
É o choro incontido de uma boca
saudosa dos teus beijos tintos.
É o amor...
envelhecendo
como todo bom vinho.