Pra apagar
Acendi um incenso
Acendi um cigarro
Acendi a luz do quarto
Pra apagar a saudade
Apaguei o cigarro
Apaguei os meus medos
Apaguei o passado
E ficaram as cinzas
Ficaram as marcas
Sobraram cigarros
Até o vinho sobrou
Até à noite eu chorei
Mas o incenso está lá
Assim como a saudade
Assim como o vinho já quente
E a madrugada assiste outro ato
Acendi outro cigarro
Apaguei minha saudade
Acendi outro incenso
Bebi o resto do vinho
E o amor?
O amor eu apaguei.
O que seria
Escreveria tristes mil poemas de amor
Se inda em mim houvesse o pranto
Se inda em meu mastro houvesse teu manto
Que hoje num fardo o carrego vestido
Seria o gesto que prende a donzela
O afago suado que entontei e inebria
O segredo trancado amiúde calado
Assim o seria, uma dor que vicia
Meu verso de amor morrerá em teu leito
Sombreando teu sono e esquecendo meu peito
De um jeito tão qual o fará taciturno
Profundo, profundo, profundo...
E de tanto pensar e no mesmo pesar
Vem em nasce a incerteza
De que vale a grandeza
Se em uma rosa te digo
O que quero falar?
Ponto Final
Eu te amo tanto, que chego a temer o meu amor
Chego a temer cada minuto que passo na tua ausência
E chego a sentir falta de quando éramos apenas dois
Eu te amo tanto, que o vazio que hoje me parte,
Consegue inundar meu peito gritando aos ecos o teu nome,
E meus dias amor, já não passam de dias
E minha noites, simplesmente, já não passam mais
Eu te amo hoje e a cada dia mais
Amo à frente e além de qualquer outro sentimento
E o que dizes, o que fazes
O que sonhas e o que pensas
E até o teu não amar eu amo
Eu te amo aqui, ali
E em cada canto desta sala
Eu amo cada palavra tua não dita
E não me culpo por este amar
Não me culpo porque amo
Eu te amo e pronto
Ponto final.
Quando Fostes
Quando fostes e o vento calou-se em meu ser
E eu ouvia lá fora teus gritos de adeus
Calou-se também a minha voz embargada
Calaram as praças, os rios
E nem mais os gritos no edifício ao lado se ouvia
Apenas tua boca
Balbuciando um mentiroso e cético "amor"
Que se misturava com o brando calor da tarde
O sol estava em mais um processo maquinal
Anunciando a noite fria e só que estava por vir
E eu ali, acenando para a minha própria tristeza
Quando te fostes e a noite já havia caído
O silêncio tornou-se ensurdecedor e mudo
Nem as aves pousavam mais na cerquinha velha
E nem havia mais café na mesa
E tudo era vazio
E eu percebi que já fazias parte de mim
Que tu já era a essência que me adormecia
E sem ela eu vagueio de insônia pelas noites
Silencioso e recordando cada movimento teu
Percebi que gostava do teu cheiro
E que era porque estavas ali que eu era feliz...
Tudo isso eu percebi meu bem,
Mas apenas quando fostes embora.
Cansado
Se vejo teus olhos
Se vejo teu seio
Me sinto perdido
Me perco com isso
Martelo um sorriso
Mas ficam as marcas
Se sofro vivendo
Se vivo pra isso
Não perco o sentido
De sofrer e te amar
Prefiro arriscar
O menor dos sentidos
Em ver-te fugindo
Com medo de mim
Não tema a loucura
Um dia ela passa
Um dia a loucura
Vira desgraça.
Abandono
Se um dia veres desfalecer este peito fraco
Diga-me ao menos que tentou chorar
Que ao tocar a minha pele seca e fria
Sentiu o amargo peso de não ter me amado
Minhas últimas lágrimas serão teu bálsamo
Meu sussurro será um estrondo de dor
O gelo dos meus olhos enbranquecerá tua alma
Meu amor!-Um dia virarei mármore!
E mesmo após meu sonâmbuo embarque
Teu coração inda sorrirá - Alívio
-"Oh! Que de um tormento me livrei!"
Livraste agora da tua vida a miséria
Vá junto aos podres afogar-se na escória
E deixe-me aqui neste colarinho que sufoca
Restos
A solidão consegue invadir cada partícula acabrunhada e fedida de min'alma
Consegue ser o único bálsamo de meu corpo
A única saída onde vejo meu fim.
Sinceros pedidos de Adeus,sinceras feições renascem
Deixando o que nós chamamos de "resto"
Restos comidos pelos vermes da minha coragem
Eu posso ser quem leva, quem traz, ou simplesmente quem passa
Posso ser o que se chama de influente
Ou o que se chama de podre
Restam apenas os cacos,
As sombras
Os gritos.
Em mim se vai
A cada instante que vens, e que vais
E que choras meu amor,eu me perco
Eu me morro, me acabo, infeliz que sou
E arranco meus medos, espero um sentido
Um novo conflito pra me responder
Uma nova história, e mais um nocaute
Eu fecho meus olhos pra não mais me ver
Eu quero teus risos, amor se me partes eu quero morrer
Armei meus escudos a cada sofrer
Montei minha casca, meus rios de lágrimas
Matei meus amores e minha felicidade também
Esqueci que sou outro, mais rico de choro
Mais forte sem risos, mais pobre de dor
Amar pra mim não dá mais
Amor por mim morre e vai
E meus amores, ah! meu amores!
Vão-se em paz!