GRITO
Hoje não quero ser boazinha
doce e apaixonada,nem fazer confissões
não quero escrever o poema perfeito
não quero alimentar desejos e ilusões
Hoje não quero ser melodia
não quero ser alucinação em noite tardia
não quero alimentar insónias
de quem me aprecia
hoje sou o lado avesso do desejo
o lado errante da alma
sou a mão trémula que rabisca no papel
sou coração sem qualquer ensejo
sou a rebelde que solta ao vento seu praguejo
Hoje virei-me do avesso
e sem nenhum apreço
grito ao mundo,que o mundo se foda
o amor,a vida, a paz, não têm preço
acabem a gerra e voltem ao começo !
Olhares impudicos
Quando nossos olhares se cruzam
Falam tudo o que não conseguimos dizer
Fazem o que não ousamos fazer
Tacteiam os sentidos,desnudam nosso ser
Amordaçam os sons alheios
Esmagam o rasto ubíquo da pudicícia
Mostram o que guardamos
No mais recôndito da alma
Assim,quando nos olhamos..
"Estados"
Tenho os bolsos cheios de palavras.
O olhar,
sempre em busca prometeica da precisão
mas..
sinto um enorme vazio no coração
Para você,agora,que me lê
Não durmo,fantasio,procuro-te
escrevo,escrevo para ti que me lês
quero fazer-te sonhar
sonhar com o amor ,a paixão
aquela coisa que todos procuram
mas poucos encontram,nos faz “arder sem se ver”
fazer-te vibrar,esquecer o que te atormenta
quando teus olhos tocam minhas palavras
quero que sintas meu corpo,meus dedos
acariciarem-te,meus lábios quentes pousarem nos teus
timidamente florear teu sorriso ,desfolhar suavemente
o desejo que emoldura teu olhar
quero que te sintas rei..
Não quero “metro”
Não quero “metro”
Quero pêlo no peito
Barba por fazer
Sorriso natural
Barriguinha saliente
Coração quente
O eterno incógnito do devir
Vem meu amor
mas..não te atrases
nem te adiantes
não sejas pontual
o amor não tem tempo
não existe relógio
que controle o sentimento
vem noite dento
dia raiado
chuva ou vento
meu coração com braços desgovernados
te abraçará ,tempo indeterminado..
o tempo apenas domina quem não ama.
-domarei o eterno incógnito do devir.
Veloz
Ela carrega o mundo nos sonhos
caminha veloz e brinca com as estrelas
sonha com a lua
e por vezes tropeça
calçada com os saltos altos da esperança
sorri,sorri,como quem não quer nada.
Sobe mais um degrau.
São as mãos,são as mãos !
São as mãos,são as mãos !
Que fazem-me perder o tino !
Quando seu olhar entra-me no pensamento
Ficam eufóricas,desvairadas,cegam-me ao resto do mundo
Escrevem palavras que não quero,riscam-me outras que me são
Baralham-me a emoção,admoesto-as,mas em vão
No palco do poema não se vergam
Continuam,continuam,dançando a folha
Esperam a plateia,
você !
Simples assim
Ofereceste-me a noite e a lua
quedei-me ao luar dos teus olhos...
Por um fio
Tiveste-me por um fio
levei-te ao cume do sentimento
e por um eterno instante
mergulhaste no meu incauto mar
Nas ondas ébrias de vida
afogaste minha inocência
velas de esperança içadas
dei-te o vento para navegar
Vieste à tona devagar
já o amor entardecia
a paixão adormecia
no horizonte, os destinos
pulsavam de olhos vendados
sem nada verem dos caminhos para amar