Poemas, frases e mensagens de Chapeleiro_Louco

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Chapeleiro_Louco

Sobre cigarros e homens

 
O cigarro pende preguiçosamente entre meus lábios. Está apagado, claro. Há muito que sou um ex-fumante. Já se passaram quase 2 semanas sem cigarro. Duas semanas que para mim duraram mais do que o Império Romano.

"Pare de perder seu tempo - ou melhor, nosso tempo", ouço em minha cabeça.

Retiro o cigarro da boca e o coloco de volta ao maço. Ele, o maço, está quase cheio. Foi o último maço que comprei. Em vez de atirá-lo na lixeira quando resolvi parar, achei melhor mantê-lo por perto. Se foi para provar que a mente é mais forte que a carne, ou se meu subconsciente duvidava de minha capacidade de largar o vício, não sei. E, sinceramente, não importa. Duas semanas. Isso que importa. Fodam-se os romanos.

"Duas semanas miseráveis, se me perguntar. E o que você tem pra mostrar? Nada!", a voz mais uma vez intercedeu.

Atirei o maço pra cima da mesa. Estou deitado no chão da cozinha. O chão está tão frio que fez meus testículos enrugarem de tal forma que achei que fossem esgueirar-se pra dentro do meu corpo. Vejo uma barata grande e nojenta na parede, parada sobre uma mancha amarela de gordura. Alheia ao meu sofrimento.

"Já se perguntou como deve ser fumar uma barata?". Certo, isso está ficando estranho. Preciso de um banho.

A água fria me atinge como uma marreta, exorcizando meu corpo de todos aqueles pensamentos. Ao menos por alguns segundos. Fecho o chuveiro, apanho a toalha e saio. Antes que possa começar a me enxugar, me ajoelho na frente da privada e vomito o pouco conteúdo do meu estômago. Recosto-me na parede e passo as costas da mão sobre meus lábios. Estão secos e machucados. A mania que sempre tive de os mordiscar havia se intensificado nesses dias sem cigarro. Preciso tirar esse gosto de vômito da boca. E, para isso, nada melhor do que...

"Do que um... Do que um... Vamos, vamos."

Um copo de refrigerante.

"Ora, vamos..."

Sim, é isso. Corro para a cozinha, molhado e seminu. A barata ainda está lá, e sua presença agora me parece jocosa e ofensiva. Apanho a garrafa de coca-cola, um copo e vou para a sala.

Bebi a garrafa toda em menos de vinte minutos e fiquei enjoado. Volto ao banheiro. O maço de cigarros estava sobre a pia. Eu o apanho.

"Eu te perdi mesmo, não foi?"

Sim. Estendo o braço sobre o vaso sanitário. Fecho minha mão em volta do maço o mais forte que consigo. Assim fico por um ou dois segundos, e então abro os dedos. O maço cai pesado, direto para o fundo da privada. Segue-se um longo e doloroso adeus. Puxo a descarga.

Minha cabeça dói. Preciso dormir. Mas antes vou matar aquela maldita barata.

"Se disserem que nunca te amei
Saberá que estão mentindo"

- The Doors, L.A. Woman
 
Sobre cigarros e homens

Veterano das Guerras do Fumo

 
Veterano das Guerras do Fumo
 
Espantoso como, mesmo após tanto tempo, a sensação ainda era ridiculamente familiar. A fumaça, a tragada... Era como se o intervalo de quase meia década simplesmente não tivesse acontecido. Como andar de bicicleta, alguns diriam.

Uma bicicleta mortal.

Recostei-me e soltei a fumaça pelo nariz.
Sempre gostei de fazer isso.

"É como voltar pra casa, hein?", a voz em minha cabeça diz.

— Não se anime, é apenas temporário. — falei. A falta de convicção em minha voz me deixou envergonhado.

"Claro, claro...", ela retrucou, jocosa.

Findado o primeiro cigarro, combati a vontade de imediatamente acender outro.

"Bem-vindo de volta", ouvi, num tom quase afetivo.

Estava atrasado para um compromisso. Apanhei a carteira e as chaves.
O maço não precisei pegar.
Já estava em meu bolso.

Após anos como um veterano das guerras do fumo, percebo-me de volta às trincheiras.

Hello darkness, my old friend
 
Veterano das Guerras do Fumo

Cigarrinho, cigarrinho

 
A fumaça erguia-se lívida; e tímida a princípio. Conforme ganhava altitude, entretanto, tornava-se mais extrovertida, produzindo formas e contornos abstratos e insinuantes. Dei uma longa tragada, e então soltei a fumaça no ar noturno.
- Cigarrinho, cigarrinho, você vai me matar? - perguntei-lhe.
"Por que isso agora?", ele questionou. Apenas em minha mente, claro.
- Sempre ouvi coisas horríveis a seu respeito. Sobre como você causa dor, sofrimento e morte.
"Nunca neguei isso."
- Verdade, verdade.
Outra tragada.
Baixei o olhar para o pequeno cilindro entre meus dedos.
"Mas eu faço você sentir-se bem, não é verdade?"
- De certa forma. Mas eu sei exatamente o preço dessa "felicidade". E, no entanto, aqui estamos. Que tolo eu sou, não?
Ele não respondeu.
- Cigarrinho, cigarrinho, você vai me matar? - insisti.
"Não esta noite"
Traguei novamente, dessa vez soltando a fumaça pelo nariz. Fiquei feliz com aquela resposta; estava uma noite bonita demais para ser minha última.
 
Cigarrinho, cigarrinho

Eu Sou o Poeta

 
Eu Sou o Poeta
 
Eu sou o poeta
Penso, logo rimo
Mais louco, menos esteta
O som, a fúria, a base, o cimo

Escondo minha tristeza
Minhas risadas mostro ao mundo
Uma vírgula errada, uma impureza
O corpo do paciente moribundo

O chamado vem, de quilômetros de distância
Cabeça sobre os ombros, flagrante inoperância
Um sentimento que palavra alguma retrate
Eu sou o bobo, eu sou Pagliacci

Eu sou o poeta
Ou assim gosto de imaginar
Na verdade, sou o poema
Que está prestes a acabar

Guess I'll see you dancin' in the ruins
 
Eu Sou o Poeta

Louco como um chapeleiro