O tempo não para
Hoje tive a noção de que nunca perdi tempo.
Apenas demorei a encontrar um relógio que estava perdido dentro de um coração.
Tarde
Nunca será tarde para quem cedo se permite.
Tempo
Só se devia perder tempo com quem nos faz perder no tempo.
Um breve Olá
Que se desengane quem pensa que na vida temos um tempo só para nós.
Ele é um comboio em constante movimento, sem paragens, só com um bilhete de ida, e sem volta.
Tempo é um predador de vidas, de anos, de horas, minutos e segundos. Ele nos devora, cheio de pressa, mas ironicamente nas calmas.
Ele é o instante que passa, que nos deixa sempre à margem de nós próprios e das nossas escolhas.
Temos sim apenas uma única oportunidade de mostrar ao tempo um pequeno momento no seu enorme tamanho, para dizer um breve "Olá", e um eterno "adeus".
E ele nunca pára, e apenas as saudades de o ver passar é que fazem tudo parar no tempo.
Outro lugar
[Verso 1]
Nesta margem tranquila, onde o céu se alarga
Que cria um arco sobre o rio, em paisagem tão clara
Neste momento suspenso, em que o tempo desacelera e trava
Deixo-me levar, por esta cena tão sincera
[Refrão]
Levado pela corrente, sem destino a seguir
Deixo o coração guiar, sem medo de partir
E quando a noite chegar, sobre esta margem ir descansar
Deixo-me levar, pela maré, em busca de outro lugar
[Verso 2]
Sobre esta margem, onde a alma se perde em devaneio
Neste momento estranho, onde o tempo se faz Janeiro
Minha alma alcança voo, para além do meu peito
Levada pela maré, em busca do novo leito
[Refrão]
Levado pela corrente, sem destino a seguir
Deixo o coração guiar, sem medo de partir
E quando a noite chegar, sobre esta margem ir descansar
Deixo-me levar, pela maré, em busca de outro lugar
[Ponte]
Perdido em outras visões, a alma já se desfaz
Na bruma das utopias, sem rumo, sem mais
Vou em viagem, sem destino, sem mala a carregar
E quando a noite chegar, sobre esta margem repousar.
Beijo
Fia-me um beijo na Terra, e cobrar-te-ei levando-te ao céu.
Escravo
Somos eternos escravos dos nossos desejos.
Ou morremos deles, ou vivemos para eles.
Entre dentes
Não existirás sem seres o teu próprio
Atearás choro com agua em lume.
Não existirá dor que tu não sintas
Ao continuares a ser energúmeno.
Não serei estofo para as tuas lágrimas
Nem tão pouco o teu conselheiro,
A vida são pequenas páginas
Que lês o dia inteiro.
Irás provar teu cálice de sangue ardente
Na colher com bordas de prata
Não existirá riqueza nem boa gente
Que te salve enquanto a vida te mata.
Quantos gritam de dentro do seu peito
Fome e desdém que fazem sentir
Na hora é guerra, e não respeito
Tanto louco a permitir.
Tão delicados e hábeis
São frustrações delinquentes.
Puta da mania que são sabios
E batem com a língua nos dentes
Não quero saber. Não quero imaginar. Quero ter vida para além de ti e de mim.
Quero provar e aceitar, fechar-me dentro de ti e saborear
Rasgar-te toda e colar a tua alma na minha.
Morrer e nascer de novo, nascer e morrer outra vez..
Não quebro o meu medo sem sentir receio
Que se foda quem já viu tudo.
Para muitos este mundo chama-se recreio
No qual não crescerei mudo!
Se fosse o mundo tu
Tivesse o mundo linhas curvas tão bonitas como as tuas, onde as minhas mãos querem criar poesias.
Fossem todos os lábios no mundo tão doces como os teus, para eu recitar os poemas saborosos.
Fossem todos os olhos neste mundo tão sinceros como os teus, para me espelhar na tua face.
Mas porque quereria eu tudo isso no mundo, se no mundo eu te posso ter a ti?
Liberdade
No final de contas, todos queremos ser livres para nos prendermos ao que nos liberta.