Gigantitude de criança
Semeiam estrelas e borboletas
Algumas róseas outras violetas
Pintam o Céu de verde
Pra que não esqueçam
Araras não se pintam com canetas
Com sua inventitude
Pintam mil peripécias
Transformam em menina a boneca
Bolas quadradas em balão
Jornal em avião
Transformam a fome em vontade
Tristeza em coisa de gente grande
Remédio pra solidão, abraço
Felicidade em algodão
Bons sonhos queridos poetas, meninos
São crianças se divertindo
Quando esquecem o mundo
O relógio não mais marca o tempo,
Inexistem segundos.
Lobo
Morreu em mim a doçura
Desnudaste pétala a pétala
Com seus verbos e mentiras
Renasço lobo
De fúria e libido feito
Em meus olhos voltou
A brilhar
A luz que ofuscavas
Caminho a passos largos
Sempre espreito
Meu peito em ébano refeito
haicai sem nome
a borda do copo
cintila teu corpo nú
insônia de Adeus
(adancosta)
Amnesia
o álcool
que meus poros transpiram
é veneno amnésico
torpe neblina
um dia inteiro
há algum tempo,
o tempo me olha de longe,
e passa,
já faz tempo que esta envelhecendo,
talvez um dia inteiro.
haicai desbussolado
amo até de olhos
fechados, nas curvas norte
perco me de mim
adancosta
O ser ator
Desde criança me ensinaram que Homens não choram
E ao me lembrar disso em frente ao espelho eu chorei
Me Ensinaram que não se deve rir dos mais velhos
E ao me lembrar disso em frente ao espelho gargalhei enlouquecidamente
Me disseram que eu não podia cantar
E com microfone em mãos em frente ao espelho eu cantei
Me dissertam que eu não sabia pintar
E com minha aquarela pintei um lindo céu azul
Me disseram que eu não podia ser ator
E eu subi em um tablado e atuei
Me disseram que eu não sabia escrever
Hoje escrevo lindas canções e sonetos
No fim
Subo nesse palco
E na cabeça a incerteza do aplauso
Canto esses versos simples pra você
Levando no peito a única certeza
A de que nessa ou em outras vidas
Por DOM ou por ESFORÇO
Um dia eu ei de ser tão grande quanto meus sonhos.
Grito de um filho Africano
Ó mãe África
De crucificação
Escarnecem do negro de minha pele
De meus dialetos, sotaques
Eu que carrego cravado na tez
Todas as tuas memórias
De restos, osso,
Farelo e água
Ó mãe África
De contrastes
De quilates de sangue
De fartura de fome
De iniqüidades
De esqueletos que teima
Em ter vida
Dessa persistência
Que nos torna fortes
Ó mãe África
De crueldade
De alforriados em jaulas
De crianças que empunham armas
De homens que vendem suas almas
Por pratos de comida
Do barro que lhe farta a barriga
Do lixo que os mantêm em vida
Ó mãe África
De clemência
Escute meu grito de suplicio
Afague meu coração menino
Derrame em chuva meu pranto
Meu sangue em seiva
Para nutrir-lhe a carne.
Colibri
Vai, voa longe colibri
Me deixa desprotegido
Sozinho
Com medo
Tu levas no coração segredo
Meu amor infindo
Delicado relicário
Pra que ninguém saiba
Que te pertenço
Carrego grande solidão
Realidade, ilusão
Do tempo que não sou o que quero
Da imaturidade, racionalismo
Crio milhões de mecanismos
Pra te afastar do peito em vão
Aquario
Folheando o velho álbum Hélio encontrou uma foto já esbranquiçada do cristo, suas crinas ainda loiras do verão quente que fez aquele ano, o sorriso amarelo se perdia em meio à imensidão azul (visão espetacular) ao seu lado Ella deslumbrada com o ir e vir dos carros daquela cidade (é incrível como não pararam), Ella também se foi, como Hélio 1, Hélio 2, Hélio 3 e Ella 2, cada um pegou seu bilhete e segui...
Eu também quis seguir, sempre com pressa, sempre correndo, dei de cara na parede de vidro desse aquário, fiquei preso nessa bolha, habitada por mim e por minhas memórias.