Quantos sóis ?...
Quantos sóis eu caminhei…quantos sóis hei-de caminhar? – Sobre as linhas que tracei…sobre as linhas que hei-de traçar?
Destino incerto, aquele que me espera…que destino terei que enfrentar?
Não sei se alcanço a quimera …não sei se consigo lá chegar.
Quantos versos eu farei? Até que o tronco que envergo…dê de si a fraquejar … e todos os sóis que caminhei…sejam janelas para eu descansar.
No meu caderno, quero deixar, versos que não cantei, versos para recordar. Passos que segui, conselhos que escutei…nem sempre os ouvi…acabei por errar...
Na minha vã filosofia, para trás sei que deixei, sonhos e alma vazia, tempos em que tudo sorria e até os sonhos eram verdade…o tempo era abundante …a esperança acordava comigo.
Nas manhãs, havia um sol brilhante.
De todos esses sóis, sorvi o néctar e o mel guardei, viajei no tempo, como peregrino sem rumo, com a esperança em prumo, num veleiro de palavras, num veleiro de sonhos, depositei meus encantos, por tudo o que vi, por tudo que toquei e em discordâncias …chorei.
Neste veleiro de sonhos, as saudades pintei, em manuscritos bordados, pela pena talhados e as saudades enfeitei.
Veleiro peregrino, levará a qualquer destino, alma desnuda que grita, que chora, p’los pedintes lá fora, sem nada poder fazer …
Apenas a pena devora, estas larvas que explodem, que inundam esta alma que não pára de escrever.
Cecília Rodrigues-2009
Diário de um cão
Meu nome é Snoopy,
Hoje fui premiado. Minha dona deu-me um abraço. Hoje ela estava diferente, sem aquele ar preocupado e com aquele ar repreensivo ausente.
Fiquei tão feliz…só queria que ela entendesse o meu olhar, ia ver escrito nele, o meu agradecimento e o meu afecto. Só queria poder falar para expressar todo o meu sentimento.
Eu sei que ela me ama, mesmo que não o demonstre a todo o instante, mesmo que pareça distante.
Sei que sou um cão de sorte, porque sou peça importante, isto a gente sente.
Hoje cansei de bater á porta, não sei porque não me ouviam. Humildemente enrolei-me sobre o tapete de entrada e pacientemente esperei. Tinha a certeza, de que estava alguém em casa, estavam distraídos ou tinham adormecido, resultado de muitas horas de trabalho de meus donos.
-Ainda não contei o porquê estar a bater á porta: -“ logo cedo, incomodo todos para sair de casa e ir dar a minha voltinha matinal “, logo, logo, eu volto…e lá estou eu a incomodar novamente, mas fazer o quê? – Não tem outro jeito. Sou apenas um cão! Ainda bem que todos compreendem.
cecília Rodrigues-2009
Viseu terra de encanto
Viseu, és Terra de encanto…
Jardins, matas e História.
Tens “Estrela” com um manto,
Branco de neve e de glória!
Ali, a História se fez,
Onde um herói certa vez…
Nos “Hermínios” aguardava, (*)
O inimigo, que avançava.
Foi um herói destemido
Quando enfrentou o perigo,
E esta cidade salvou,
E antes de ser ele traído,
Nunca perdeu o sentido,
Quando a batalha ganhou.
Para não ser esquecido,
Seu nome foi promovido,
Que esta terra baptizou
Com o nome de Viriato
Que o poeta com muito tacto
Descreveu e encantou…
És a Terra de Aquilino
Poeta do pão e vinho,
Partilhado com pastores,
Baptizou Terras do Demo,
Em seus versos sempre a esmo
Do povo, cantou suas dores.
Viseu, Terra de Grão Vasco,
Grão Vasco, Grande pintor.
Duma Obra sem igual
De incomparável valor!
Teus encantos têm magia
De inigualável beleza…
Quem te visitar um dia,
Fica com esta certeza:
_Voltar a ver-te… outra vez
Levar-te na alma e talvez.
Dizer num dia a sorrir…
Daqui, não vou mais sair!
Reeditado e Revisado em 2010 -"Minha prenda para o futuro"
26/01/04
(*) Montes Hermínios (serra da Estrela) onde Viriato escondido com seus homens, venceu inimigo. Viseu é também conhecido como a “Terra de Viriato”.
Conto as horas do tempo
Conto as horas do tempo...
Sem ser dona do meu coração
Nem a coqueluche dos rapazes,
Oh! Vida vivida, o que me fazes!
Desfio em cântico esta solidão!
Esta estância, prende-me a mão,
Evidencia-me horas fugazes...
Das Primaveras, tão lindas frases,
Da mocidade; minha sublimação!
Já perdi do tempo, toda a conta,
Conto as horas do tempo, já tonta!
Reverto no tempo, etérea saudade!
Envolto em manto de seda airosa,
C'o perfume de alvacenta rosa...
Apraz-me o tempo, esta felicidade!
Cecília Rodrigues
Junho_07
Rabiscos
Nas linhas do meu caderno,
Traço linhas cor do céu,
Da terra colho o interno,
E a poesia deixo-a ao léu.
Sou Mulher...Madura
Do que vivi, trago Esperança
mulher madura na lembrança
dos tempos que já lá vão...
Feliz p'los anos terem passado
ter-me conscientizado
dos anos que ainda restam...
Juventude que ainda abrilhanta
Amor que se agiganta
nos dias que se arqitectam..
Um pulsar maduro inquieto
num peito ardil...lesto
os sentimentos reiteram
Sou mulher madura..sou emoção...
sou devaneio..sou quimera
sou como flor de Primavera
Sou pura imaginação...
Quando a impulsiva paixão
frenéticamente impera
então, ainda sou quem era
sem ser dona de meu coração...
Cecília Rodrigues
2007
www.cecypoemas.com
Ondas e Marés
Agigantas-te em alva espuma
Quando açoitas o inerte rochedo…
Em ondas e marés de bruma…
Navego, nas tuas marés de mar-alto
Em vagas atrevidas e sem medo…
De pés na calçada luto contra o tempo
E em passos silenciosos avultam-se sonhos.
São remansos de uma vida reflectidos
Enquanto o acelerar dos passos é mais veloz
E nos pensamentos, slides pertinentes
Projectados enquanto a vista corre.
E a voz do vento, traz um doce acenar
E o arremessar de um beijo terno
Que chega até mim em forma de elixir…
Espraio a onda que vem de mim
Neste compassado silêncio…
Nesta corrida contra o tempo…
Esse tempo que avança algoz
Apenas interrompido por instantes
Num pouso da ave muito suave
Nesta paisagem, da Figueira da Foz.
Cecília Rodrigues _ Portugal
Buarcos _ F. Foz_ Abril_07
www.cecypoemas.com
Destino
Despi-me ante o teu olhar ténue
Depois, numa sublime ternura
Embarquei neste barco sem leme
Ancorado no cais da ventura
Na troca de olhares frementes
Sob o universo da loucura
Nasce o desejo incandescente
Numa entrega plena de candura
Sedentos sabores do destino
Inssessantes abraços felinos
Agigantam loucuras de amor
Enleados neste amor menino
Ouvimos valsas de violinos
Infinitos momentos de torpor
Cecília Rodrigues _ 2007
Direitos autorais registrados
Nesse teu olhar
Há um quê... nesse teu olhar,
Que me eleva ao infinito,
Faz de ti um principe
No meu condado
Em trono sem rei.
Esse quê... de um olhar terno,
Onde eu queria para sempre morar;
Fazer um rio de água doce,
Sem lágrimas salgadas.
Há nesse teu olhar...
Pedaços de nós,
Trancados num pensamento
Espairados no firmamento
Levados pelo vento
Aos quatro cantos!
E ainda, nesse teu olhar,
Uma quietude morna...
Que em mim vem habitar.
E é nesse teu olhar
Que me sinto enroscar;
Te pressinto caminhar
Em pegadas de veludo,
Onde, de leve vens repousar,
Teu corpo cansado...
Em meu regaço.
E num repentino abraço,
Pouso o meu... no teu olhar
Cecília Rodrigues
Bailando um Soneto
Bailando um soneto
Urde um verso
Na teia do Poema
Lépido um outro
Segue a cena;
Urdindo o tear …
E são três na novena,
À espera do quarto
Que a rima ordena.
Num teor sentido
Um quinto aflora
E num ápice repetido
Um sexto se forma.
Ao sétimo, é preciso
As sílabas juntarem
Formando um oitavo
E um quarteto, torna.
Ao nono acresce
Um verso de amor
Dez sílabas, é o décimo
Vem o "onze" sorrateiro
E um terceto aparece
Vem o "doze" e reclama
Ficar só é péssimo:
Venha, o décimo terceiro!
Sem o décimo quarto
O soneto não tem fim…
De amor ou solidão
Ou de lânguida paixão
Heróicos de Camões,
Alexandrinos, de Assis;
Os sonetos são, Canção!
Estende-se na memória
De todo o que "O" canta
De alma que se alevanta,
Em chama e em Glória
Catorze versos, melodia,
Formam o tear da poesia
Onde o poeta com mestria
O soneto reverencia!
Cecília Rodrigues