Carta de um filho
Mãe esta noite não serei o teu príncipe,
não serei o teu bebé, teu coração, teu lince.
Peço-te desculpa por ir embora sem dizer adeus,
mas acredita mãe, que sempre serei, anjo teu.
Lá no céu as estrelas brilham mais forte,
eu serei mais uma a brilhar, mãe eu adoro-te.
Não olhes para o céu se estiveres a chorar,
olha para o céu quando me quiseres abraçar.
Eu sei que esta noite, será uma noite fria
e que eu abalerei e tu ficarás sozinha.
Mas não mãe, eu não te vou abandonar,
podes estar sozinha, mas eu sempre vou lá estar.
Quero que chores e que sintas saudade,
pois se o fizeres é porque ainda tenho,
a tua doce amizade.
Desculpa mãe.
O Que Tu És
És fragmento, memoria presa no tempo.
Uma cicatriz, que ficou, nunca sarou.
Um passado, nunca desejado,
porem, o passado, mais amado.
És a rua, percorrida por um cego,
que nunca viu, mas o que ouviu, sentiu.
És o adeus no final do poema,
a terrivel linha que desalinha,
porem uma linha, tão serena.
És a mão que acena na despedida,
a lágrima que uma criança larga,
quando, triste, grita.
És toda a palavra, nunca, pronunciada.
As histórias mal contadas,
sobre princesas apaixonadas.
Quando o livro acaba, por dragões,
devoradas.
Mas nos olhos das crianças,
qualquer mentira, bem contada,
é uma verdade fantasiada.
É isso que tu és para mim, uma mentira bem contada que eu aceito como uma verdade fantasiada.
Ass: a tua criança.
Quem ama são os loucos
Quem ama são os loucos.
Eu não sou louco.
No entanto,
por amor eu sofro.
Portugal
Oh Afonso que foste tu criar,
um país que vive virado para o mal.
Filhos matam pais para poder comer,
pais matam filhos com medo de morrer.
Outrora um país de grande glória,
glorificado com o sangue dos de fora,
agora um país que vê o tempo sem hora,
um reino sem rei como ele um dia fôra.
Meu Portugal, que nunca foste muito meu,
para além do chão onde o meu avô morreu,
nada fizes-te para salvar nenhum dos meus
é ser português sem ter amor aos seus.
Levantas as armas contra o teu povo,
dás riqueza àquele que te come o ouro,
Portugal, como ficas-te louco,
queres ser português, com a espada de um mouro.
Não leves, nem fiques
Toca, toca mas não leves!
Vem, vem mas não fiques!
Não sejas a louca,
que vai amar este triste.
Eu Poeta
Quando vou buscar o papel e a tinta porque me apetece escrever, não o consigo fazer.
Faltam-me as palavras, as vírgulas, o assunto, falta-me tudo, excepto o papel e a tinta.
Quando não tenho papel nem tinta, sou atacado por palavras, vírgulas e assuntos, tenho tudo, excepto com que escrever.
De tudo o que escrevo, mais de metade não foi escrito.
E é esse o poeta que eu sou, o poeta dos poemas perdidos e esquecidos.