O PIQUENIQUE (às avessas)
O PIQUENIQUE (às avessas)
(Alex Sandro de Lima Silva)
As nuvens se apressam como touros selvagens.
O sol fulgurante, sem relógio, corta o céu azulado em disparada.
Logo vem a dona lua com suas estrelas malcriadas,
que aos poucos aparecem cobrindo as ricas pastagens.
Na grama verde uma toalha quadricular é estendida,
potes, garfos e facas então são lançadas feito baralho na mesa;
bolos, tortas, pudins e até pequenas framboesas,
enfeitam e dão uma beleza sem medida.
Os corpos celestes lá no alto testemunham o pequeno caso.
Dois jovens maltrapilhos, mas de cabelos bem penteados,
entre risadas e olhadelas tímidas, embaraçados,
sentados na grama, se admiram e se servem sem atraso.
Pães melados de manteiga são repassados de uma mão pra outra;
bolos são desembrulhados e em minutos desaparecem.
Um sorriso cá, uma risada lá… ambos se divertem.
A gorda lua parece até fazer hora extra!
Quem interromperá?
Será as cadentes estrelas que curiosas passam aceleradas?
Ou será a inóspita lua satélite iluminada?
Quem será o intruso?
Talvez seja o danado do Sol em seu fuso!
Saindo do horizonte, recomeça sua caminhada,
alumia o casal, que, sem notarem o início da madrugada
se levantam de mãos dadas e vão embora abobalhados.
Enquanto se recolhem… a grande metrópole é despertada.
DESISTO
DESISTO
(Alex Sandro de Lima Silva)
"Desde quando ficaste fria assim?"
Ora, tu não sabes?
Desde quando declaraste a mim
ser apenas teu abrigo.
"E onde estão tuas lembranças?"
Já não as tenho mais comigo,
Perdi-as junto com a esperança
de ser a ti mais que ombro amigo.
"Nem te lembras dos passeios?"
Não, nem disto quero recordar.
Acabou todos os meus anseios
de um dia... tu me namorar.
Perdi todo interesse!
Mas agora basta desta conversa,
Sou pra ti uma estranha, apenas isto.
tua amizade não me interessa.
De ti, desisto.
ARTE MODERNA
ARTE MODERNA
(Alex Sandro De Lima Silva)
Rápido! Traga teus pensamentos, tuas ideias abstratas.
Ali tens um vaso, pequeno, frágil, sem significado!
Rápido! Eleva-o com tua razão, este objeto que nada retrata.
Torna-o teu veículo de proposições, teu menino de recado.
Não te esqueça dos discursos, dos floreios da retórica.
Rápido! Venha e me ensine os caminhos disformes dessa tua religião.
Mostre-me o bom no caos que pintou, nessa tua arte disfórica!
Rápido! Me convença do belo no feio de sua canção.
Só não te detenhas na linha do horizonte
pra que não te perda na sublime criação.
Nem uses os astros como tua fonte
pra construir teus caminhos de perdição.
Rápido! Que teu mantra seja: Arte pela arte.
Apenas isto, nada além disto!
E com ele te faça adorado por toda parte.
Apenas isto! Jamais apreciado, nunca sentido.
NOITE FRIA DE FIDELIDADE
NOITE FRIA DE FIDELIDADE
(Alex Sandro De Lima Silva)
O vento bate em minha porta
Convidando-me para uma dança.
Minha pele arrepia, e o coração assola
ao ouvir aquela voz fria e mansa.
Nego-me a atender o frio chamado.
Mil vezes escolho o cobertor e ela.
Juntos, aquecidos, lado a lado,
almas distraídas que a felicidade tanto anela.
Respirando baixinho, suave, silenciosa
abraça-me às costas, apertado,
com dedicação quase religiosa.
(Teria eu amor assim devotado?)
Vejo então que o Edredom na cama espalhado
e o nosso sacro leito conjugal
tornam-se verdadeira proteção contra abalos.
(Uma barreira quase que natural?)
Nem o intenso frio, nem a forte ventania,
nem o ranger contínuo da janela enguiçada,
é capaz de tornar amarga a mais simples alegria
das almas de fidelidade dedicada
E qual é a prova disto? o café passado de manhã
e a mesa posta com pão de queijo,
os olhos feridos com a luz do dia, o carinho,
o sorriso dela, e um novo beijo.