Poemas, frases e mensagens de CarlosStopa

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de CarlosStopa

[Auto cárcere]

 
Olho em volta,
pesam as circunstâncias,
e surge a velha questão...

Estou preso... a mim mesmo?!

Por isto, só por isto,
o nó é tão difícil de desatar.
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[Desterro, 18 de fevereiro de 2018 – 21h10]
 
[Auto cárcere]

[10h58 - Da crítica do silêncio]

 
Eu — consumido pelos anos,
malogrados os sonhos de ver o meu nome
impresso em letra de fôrma na capa de um livro,
eu concordo com o "maldito" Lima Barreto:

— "A única crítica que me aborrece é a do silêncio."
--------------------in "Amplius".
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[Desterro, 20 de fevereiro de 2018 – 10h58]
 
[10h58 - Da crítica do silêncio]

[20h45 - Reina a paz na minha vida labiríntica]

 
Às vezes, eu não sei explicar a paz que reina, calma, suave, na escuridão do meu labirinto... quando lá fora o mundo continua tão ameaçador, agressivo como sempre!

Como eu não dependo de deuses para viver [e morrer], eu dispenso explicações. Vivo a paz até... a ansiedade voltar!

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[Desterro, 25 de fevereiro de 2018 – 20h45]
 
[20h45 - Reina a paz na minha vida labiríntica]

[Ressaibos daquele prazer antigo]

 
O que fica como resíduo de um certo prazer, vivenciado em um certo tempo de intensa entrega? Difícil dizer. Mágoas? Talvez sim, talvez não — mas indiferença, nunca!

Mas, se como disse o poeta, de "tudo fica um pouco", então, daquele tempo inebriante, há de ficar sim, um resíduo... aquela raspa do fim do doce agarrada no fundo do tacho da alma abandonada!
As pessoas sempre encontrarão um modo de nos julgar e nos culpar pelos os ressaibos de suas dores...

Afinal, é como nos relata Goethe —
... "Foi assim que, já muito cedo, percebi como as pessoas nos cobram amargamente pelo prazer que lhes proporcionamos um dia".
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Cobrança inócua! O Bem e o Mal não têm duração. Nada, nada mesmo nos garante proteção contra a erosão do querer, contra os lances do Acaso — um perito em cruzar caminhos!
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[Desterro, 13 de janeiro de 2018, às 23h23]
 
[Ressaibos daquele prazer antigo]

[Contando sonhos]

 
Penso agora, quando já amanhece, em todos quartos em que dormi durante a minha vida. Talvez, não de todos, mas se eu pousar o espírito que tenta se desgarrar, vou me lembrar da maior parte deles.

Tortura-me o suave pensamento de que eu não consigo contar os sonhos que eu tive em cada quarto, assim como não sei do rol das batidas do meu coração.

Em tempo: já não penso em contar todas as batidas do meu coração, mas apenas em enumerar aquelas vezes em que ele bateu por alguém!
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[Desterro, 23 de fevereiro de 2018 - 05h49]
 
[Contando sonhos]

[02h48 - Infinitos são os vales de lágrimas]

 
Desde Minas, eu via tudo, sim, eu via... mas eu não dizia nada, pois a cena me cortava as palavras — aquela "água corria não se sabia para onde e para quê". Excessiva no tempo, a água corre, corria, correrá...

Quase uma pergunta... Mas por que me fiz essa pergunta aprisionada, tímida, carregada de dolorida incerteza? A hybris ou o excesso de tudo, é que me atormenta — excessivo, eu não tenho medida, eu não sou a medida das coisas. Tudo me parece supérfluo, excessivo. Não há fundo: melhor nem me olhar... Transbordo o meu olhar, e me perco — escoo sem onde, sem quê.

Que importa para onde as águas correm... correm para avolumar outros cursos de água, que sua vez correm também para onde... para o mar, para o nada? Correm, correm, e correm até perder, na dissolução total, a identidade, a referência de origem. Sorrio — o Nada é salgado, eu não sabia!

E o que me importa o mar? O que me importa o infinito? Por que há tanto sal... infinitos são os vales de lágrimas? Silêncio... De onde eu estou, todo ponto de chegada está no infinito! Prisão, doce prisão dos pensamentos meus... os vales são mesmo infinitos...
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[Desterro, 18 de abril de 2018 - 02h48]
 
[02h48 - Infinitos são os vales de lágrimas]

[11h40 - O Judas de si]

 
[Simples homenagem aos delatores]
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Por que ser o infame Judas de si mesmo?! Mera ausência de coragem, ou um reles espírito de merda? O que é isto — esta fraqueza congênita dos traidores de si e dos outros que alguns têm como fardo?!

Senão, vejamos o que diz a poeta maldita —
...[...] Ou voltando na manhã clara, limpa, inocente, sem remorsos porque a simples presença foi o meu pecado. E não existe erro se não nos negamos a nós mesmos[...] — in "Rosa recuada" . Maura Lopes Cançado.

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[Desterro, 19 de abril de 2018]
 
[11h40 - O Judas de si]

[O Relógio da minha Vontade]

 
A Vontade minha tem um certo tipo de relógio que costumava ter uma cadência, uma sucessão de estados de ânimo. Eu podia sentir esse ritmo do porvir das coisas que a minha Vontade, tripulada pela minha [excessivamente criativa!] Imaginação, conseguia engendrar para iluminar os meus passos.

Vez ou outra a minha [ativa!] Imaginação pregava uma peça na minha Vontade e tudo desandava em nada... pois tudo era um sonho falso, e logo, fanado... mas ainda assim, o ritmo do Relogio era constante — eu seguia tendo novas Vontades, mesmo que as de ontem dessem em nada! Para agir, seja para o erro ou para o acerto da pontaria, gasta energia da corda do Relógio da Vontade!

Pois bem — este Relógio da Vontade ficou parado, quebrado em algum dia de 1990... isto aconteceu quando eu descobri que a minha vida tinha sido um sonho de uma sombra — eu havia dormido por cerca de 30 anos! Desde então, eu não tenho mais Vontade, eu apenas cumpro — vivo o que há para viver, pois afinal, falta aquela coragem de me lançar naquele abismo da Serra do Mar que eu sonhei um dia... Carro com o tanque cheio de gasolina e a Quinta Sinfonia de Beethoven no último volume!

Reproduzo as palavras que Schopenhauer citou, atribuindo-as à autobiografia de uma certa Madame Guyon — — em “O mundo como vontade e como representação”, Tomo I, p.453 - Ed. UNESP.

Por fim, deixo claro que a minha Vontade não tem o peso daquela de que trata Schopenhauer... ou tem? Não me importa saber, e não me interessa! Sou rei do penso e escrevo! Leio Schopenhauer sim, mas só p’ro meu gasto!

Eu não quero nada; e que ninguém espere alguma coisa de mim — sou um homem com o [interior] Relógio da Vontade irremediavelmente quebrado — até o fim, e para todos os fins!
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[Desterro, 06 de março de 2018 - 13h36]
 
[O Relógio da minha Vontade]

[23h21 - A divindade preferia sangue às flores]

 
Ao que me narra Goethe, por tradição, pactos de rendição, de paz entre poderosos e submissos eram celebrados ainda no campo de batalha entre as fileiras de mortos; eram pactos banhados com sangue dos guerreiros caídos.

Também — segue a exposição de Goethe — a prática da imolação de animais eram um meio de firmar alianças com os deuses. E essa era uma exigência do colérico deus hebraico, que por vaidade, E essa era uma exigência do colérico deus hebraico, que por vaidade, ordena a Abraão, um submisso, que lhe ofereça o próprio filho Isaac em sacrifício num altar... Os animais sacrificados eram sempre partidos em metades, e a gordura queimada no alto de algum monte.

Os submissos que desejavam firmar uma aliança com a poderosa divindade se posicionavam entre as metades do animal dilacerado. A fumaça das gorduras queimadas subia aos céus para o deleite da divindade... Assim está escrito — não dá para negar ou justificar um costume tão bárbaro!

E Goethe acrescenta —
— Simplesmente abominável matar animais para agradar a um deus!

Quanto a mim, se eu tivesse fé numa divindade, haveria de ser uma tal que aceitasse oferendas com flores, essências aromáticas, perfumes sensuais... Não com sangue ou gordura queimada!
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Desterro, 25 de fevereiro de 2018 - 23h21]
 
[23h21 - A divindade preferia sangue às flores]

[18h04 – Morder na corrente... e a desobediência civil?!]

 
É tempo de Imposto de Renda...
e eu penso em como exercer a desobediência civil...
como praticá-la com gosto, sem ódio, mas efetivamente?!

Não tenho o menor interesse em ser um bom cidadão,
mas apenas em não causar perigos a mim e às pessoas de quem eu gosto!

A minha mãe não me ensinou a roubar!
Perdi tempo na vida!

Estou preso sim; mas pior —
mordendo na corrente, sem achar saída!
Mas, e a desobediência civil... como?!
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[Desterro, 26 de fevereiro de 2018 – 18h04]
 
[18h04 – Morder na corrente... e a desobediência civil?!]

[Um certo modo de criar distância]

 
Há um modo insidioso de criar distância de quem um dia foi ou esteve próximo. Eu não me percebo aprendendo a ser próximo. Quando dou por mim, estou longe! Mas como, por que vias oblíquas?! Não sei dizer...

Eu consumo pessoas e pessoas me consomem. Somos, no começo, mutuamente hiperfágicos, insaciáveis, quase nos entredevoramos. Bebemos um ao outro tentando chegar ao último gole.

Agora, corte — eu te arremesso, tu me arremessas para a terra de ninguém. Lá tu não estás, eu não estou. Não nos queremos mais na paisagem. Humanos somos!

Gosto desse exagero todo. Preciso dessa pancada na mente para acordar minha sensibilidade, minha capacidade anestesiada de estar próximo de...

Dá-me tua mão, suporta-me, se podes, se ainda queres.
Eu sou só carência de ser com...
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[Desterro, 22 de janeiro de 2018, às 03h29]
 
[Um certo modo de criar distância]

[Pequena crônica a galope - a acusação faz falta!]

 
Gosto de pensar que estou presente aos meus atos, e de estar sempre por trás de minhas palavras; afinal, eu aprendi que eu habito na minha linguagem! Mas não tenho a obrigação de perceber onde, ao agir, eu errei!

Por isto, a acusação clara me faz falta — indica-me aquilo que foi considerado como um erro meu! Ainda assim, isto não tem importância para a outra pessoa, e só diz respeito à minha reflexão — eu não creio em perdão! Perde tempo quem diz que me perdoa!
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[Desterro, 06 de março de 2018 - 10h50]
 
[Pequena crônica a galope - a acusação faz falta!]

[11h49 - A mentira é agridoce]

 
[11h49 - A mentira é agridoce]

Às vezes, preferimos a mentira
— sol demais, cega?!

Explica-se — a mentira é agridoce!
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[Desterro, 19 de abril de 2018]
 
[11h49 - A mentira é agridoce]

[00h31 – A salvadora capacidade de esquecer]

 
Uma falha catastrófica esta, sim, pode ser...
Falo dessa terrível incapacidade de esquecimento de que eu sofro!

Sem estar apto para esquecer, eu sou indefeso, sou vulnerável. Uma casa devassada; a porta da rua escancarada, sem fechadura; entram até os cães vagamundos da rua em busca de...

Essa incapacidade de esquecer forma,
ou é, a minha dor de viver; oras... é a própria, como se diz!

Não se pode mesmo gostar de mim — sou um risco, um perigo.
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[Desterro, 19 de abril de 2018]
 
[00h31 – A salvadora capacidade de esquecer]