Prisioneira de mim
Sente este silêncio que grita em mim...
Há palavras sepultadas na minha voz!
O meu corpo é uma masmorra de palavras
onde lutam silenciosamente pela libertação.
Por vezes, sinto o meu corpo quase rendido,
mas venço ao derramar as palavras no papel!
Nas palavras eu me entrego abertamente a ti,
mas como vês estou escondida dentro de mim!
Desculpa, não consigo confessar-te o que sinto!
E assim carrego este peso...que é a minha penitência !
@Olga Silva
A dança do tempo
Os ponteiros dançam as horas.
A melodia passa pelo meu corpo
e deixa as suas fatais marcas.
Não consigo desligar este som.
Ele invade-me o pensamento
como uma locomotiva a vapor!
Também não lhe posso escapar.
Ele persegue-me como a sombra
e atropela-me sem dó nem piedade!
Danço sozinha esta melodia,
o que se torna mais doloroso ainda.
Este som marca o ritmo da tua ausência,
escreve o vazio que está ao meu lado,
fere a saudade que me habita!
Os ponteiros dançam as horas
e eu danço...à espera de ti!
Revolta em Palavras
Desilusão é a terra que piso,
Frustração é a imagem que me cerca!
Desamparo é a brisa que me toca,
Incapacidade é o que me obriga!
Precariedade é o que me alimenta,
Abuso é o que me emprega!
No meio de tanto negativismo,
Que palavra utilizo para terminar?
Talvez aquela, que depois de me visitar,
já não me permite escrever, nem dizer!
@Olga Silva
Medo do calor da paixão!
Neblina pálida e temerosa
cobre-me como um lençol acabado de lavar...
O cheiro fresco e húmido
da terra acabada de acordar
tempera o café da manhã.
E eu espreguiço-me
lançando os meus braços ao céu
tentando pertencer-te,ó neblina!
Partilho contigo a brancura que nos veste
e o frio suave que habita dentro de nós!
Somos do mundo,
mas ninguém nos pertence
a não ser esta cor e esta frescura.
Nada nos faz corar ou aquecer:
se os braços masculinos e fortes do sol
nos cercam e tentam nos entrenhar,
fugimos disfarçadamente com medo de nos perder!
Mais vale a certeza do que somos,
a alegria de saber que amanhã estamos
temerosamente pálidas e frescas,
do que a incerteza da duração deste calor que nos tenta enganar!
Degradação
Cabisbaixo cospe no chão
Olhos perdidos nos paralelos imundos
Vai loucamente e em aflição
Atropela o lar cinzento dos vagabundos
Beatas de cigarro no alcatrão
Enfeitam e perfumam o seu caminho
Muito deseja o cheiro do açafrão
Fel-da-terra ou talvez cominho
Urge a penitência e absolvição
Neste longo trilho traçado
Deus sem credo tem compaixão
Aponta-lhe o passo abençoado
És eco perdido na vasta podridão
O "encoberto" nunca surgido do nevoeiro
Monumento em constante degradação
Um paciente legado ao herdeiro
Nega-se a ele a reconciliação
Desvasta-se o verde sem piedade
Ouve-se já o grito da emancipação
...................................
Assim vai a nação!
@Olga Silva
Nota:Ler em acróstico - ler a primeira letra de cada verso.
Cansei-me...
Cansei-me das estradas
dos passeios imundos
das buzinas das viaturas!
Cansei-me das preces
das cruzes que carrego
da dor que me estrangula!
Cansei-me da inveja
da janela entreaberta
do palpite da vizinha!
Cansei-me do dia solarento
da noite estrelada
da metereologia inventada!
Cansei-me do odor do fumo
do som da cidade
do verde falso das árvores!
Cansei-me de chorar,
de me lamentar,
de me fazer notar!
Cansei-me deste cansaço
.....................................
Vou mas é descansar!
Sebenta
O meu corpo,
sebenta de páginas sem fim,
vazio e branco
mas, sem ser imaculado.
Espera o artista:
poeta ou pintor
para nele trabalhar arduamente!
Deseja palavras de amor,
doces e apaixonadas,
como só um poeta sabe escrever!
Ou belos momentos
marcados pelos pincéis de um pintor,
como só ele sabe ilustrar!
Mas, mais do que isso
o meu corpo espera
não uma pessoa que o embeleze por fora,
mas que o saiba encher de beleza por dentro!
@Olga Silva
A noite aconteceu aqui...
A noite aconteceu por aqui...escureceu o meu quarto com rapidez e sem pedir licença! Com ela veio o silêncio cheio de segredos, de lamúrias dos apaixonados, de estratégias dos criminosos, de pecados das prostitutas ...A noite é imensa, está repleta de tudo e de nada.
A noite trouxe-me a escuridão áspera que me fere a pele. Trouxe-me os pensamentos longos e distantes acorrentados no porão do passado! As recordações caem como gotas de chuva no vidro da janela embaciada.
Finjo dormir para enganar a saudade que ecoa ao fundo do ventrículo direito. Ela chama por mim como uma louca!Parece um lobo a uivar! Não quero escutá-la, quero fugir, fingir se não consigo esquecer! Deixa os meus poemas sentirem essa saudade, não eu!
Uma sombra começa agora a surgir na parede vazia do meu quarto. Não são fantasmas nem a Morte!
É o dia que me vem salvar!
Sou tua por herança!
Nem sei que palavras arrancar de mim! O coração tem pouca força,não posso esforçá-lo a dizer o que me vai na alma! É doloroso demais, muito antigo e valioso, cheio de amor e saudoso!
Quase que nem me atrevo, a recordar, a pensar e a imaginar como seria se...NÃO!PÁRA! Sinto-me moribuda, falida de afectos e só nesta imensidão que é o sentir!
Para que sinto? Assim não consigo esquecer-te porque tudo em mim te sente a ausência, ensinada pela antiga presença nos meus braços, na minha boca, nos meus cabelos...Ai, os teus cabelos doirados perdidos nos meus...NÃO!PÁRA!Já, me sinto a desaparecer!
Mas mesmo que eu desaparecesse, ficaria na eternidade o meu sentir...que é teu por herança!
Assim, quando eu partir, a minha alma gritará sufocada à procura da tua, que sei que me pertence... estaremos juntos na próxima vida!
Missão: amor!
Voo bem alto fitando o horizonte.
Abro as asas reais e aplainando,
Distancio-me deste mundo imaginando
O amor surgir como água na fonte!
Bato à porta dos deuses Romanos.
Atende-me Baco embriagado e festivo,
Oferece-me a Príapo (que insanos!)
Como se eu fosse algum aperitivo!
Os Gregos também por ali estão
(H)era, quem eu queria encontrar,
Apenas seus olhos se mostram,
Imponente deusa, rainha do lar!
"O Mundo sente muito a tua falta!"
É a mensagem que urgentemente lhe entrego.
"Traz o teu poder de novo à ribalta,
Não sou só eu que te prego!"
A minha missão está cumprida
Abro as asas reais e aplainando
Distancio-me deste mundo onde a vida
É o jogo que eles vão comandando!
Desço serenamente e com esperança
Marcado no meu corpo letrado.
"Depois da tempestade vem a bonança."
Espero piedade para o povo amargurado.
Como um falcão gerifalte e raro
Procuro um Rei doce para coroar
O meu coração bárbaro e caro,
Nidificando o nosso castelo com o verbo "amar"!
@Olga Silva