DESCOBRIMENTO
Uma mulher caminha pela rua
lenta, como as horas da tarde
atenta, como os passarinhos
secreta, como os pensamentos lascivos
pouco se sabe dela
além do tamanho dos seios e dos quadris
que é altiva: economista?
elegante: feminista?
concentrada: egoísta?
será afável, carinhosa,
compreensiva, amorosa?
ou é cismada, ciumenta,
mimada, birrenta?
poderia ser
dócil, obediente
dúctil, complacente
consigo exigente
ou tudo isto, minha
e nada mais
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ROMANCE
Te amar foi ter que ser o que não pude
Num romance iniciado pelo ocaso
Foi me reconhecer em tuas virtudes
Mas só te conheci num mero acaso
Porque amor é um no outro refletido
É ser mais feliz se ao outro agrado
Ter tudo de alguém sem nunca ter tido
O enredo de um romance preparado
Assim, te amar foi tudo o que mais pude
E você esteve em mim a vida inteira
Fez parte das minhas vicissitudes
Te amaria de qualquer maneira
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SEDUÇÃO
Muito sinto, pouco penso
Neste encanto em que me vejo
Posto que nem mais desejo
Ver ter fim este momento
Na aura em luz que te reveste
Envolver-me agora quero
É impulso tão severo,
Inegável e inconteste
Vem sem medo e sem cuidado
Nesta aventura sem limite,
Beijo-lhe agora, se me permite
Por que amar não é pecado
Para sempre quero ter
O que ficar deste momento
E com o passar do tempo
Deliciosamente sorver
VARAL DE HAIKAIS
Vestido, te prefiro
aveludado
a vê-lo dado
Não sou dado
aos caprichos
de soldado
Sereia:
sou ou
serei-a
Para o oriente
ou ocidente?
Há quem me oriente?
A massa
manipula-se
E amassa
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A COR DO AMOR
A COR DO AMOR
Dor na vida de um poeta não tem cura
Cura nem tem a eterna solidão
Solidão sempre foi sua loucura
Loucura é o que lhe acalma o coração
Coração que é feito de ternura
Ternura que ilumina a escuridão
Escuridão que ele jamais procura
Procura sempre uma nova paixão
Paixão lhe dá na vida mais prazer
Prazer lhe dá na vida nova cor
Cor preferida ele não vai dizer
Dizer não vai a cor dum novo amor
Amor secreto que terá até morrer
Morrer assim é ir sem sentir dor
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A DEUS
Adeus! Meu Deus que horror!
Não existe palavra mais fria
É mais fria que o desamor
Ouvi-la jamais queria
É o fim! Que frase mais fria!
Por que me disseste é o fim?
Matar-me melhor seria
Seria melhor assim
É o fim dos beijos meus?
Digas isto a mim não
A mim tu digas adeus
Adeus cruel solidão
Vem o sol lá do nascente
De coração na mão
Vai-se a lua pelo poente
Ambos vivem na solidão
Assim serão nossas vidas
Assim será nosso amor
Um lambendo a ferida
O outro gemendo de dor
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BURACO NEGRO
BURACO NEGRO
minha mente notívaga
vaga e nubívaga
vaga vagabunda
e vagarosa
entre estrelinhas
e vaga-lumes
não há vaga na ventura
nem nas entrelinhas
há uma vaga esperança
que uma estrela vadia
venha na vida luzir
e clarear a noite vazia
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AMOR EM FLOR
Não é tão simples assim
em poucos versos
e só em reflexos
falar de mim
Sinto a alma tão pura,
a natureza tão leve
que nem sei se deve
ser paz ou loucura
Ficou para traz
a vida sem graça
cheia de trapaça
que a solidão assim faz
O sentimento nascente
faz brilhar o destino,
abrir novo caminho
para o que vem pela frente
É o amor em flor
que prepara seu fruto
para reinar absoluto
neste coração sonhador
DESÍGNIOS
Foi por amor todos os medos
Não por medo o fim dos sonhos
E os reais momentos ledos
Fizeram-se tão tristonhos
Se ainda há ínfima chama
Basta apenas um leve sopro
Que o amor se reinflama
E faz vivo o que parece morto
Quando na mente flui a coragem
E nos pés passos apressados
Não se teme qualquer viagem
Olha-se para todos os lados
Crê-se até em miragens
Voa-se em sonhos alados
ROMARIA
enrudecido
caminho reto
dizendo rezas
que tenho fé
lacero leis
cirzo verdades
caminho contra
iniqüidades
aves piam
olhos espiam
retiro espinhos
do coração
é clara a noite
miro o retrato
e beijo a face
da namorada
a ida tem norte
mas peço sorte
pois tenho medo
da madrugada
dá meu Pai
pão e vinho, sabedoria
para o corpo dá-me saúde
para a alma a salvação
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