DESCOBRIMENTO
Uma mulher caminha pela rua
lenta, como as horas da tarde
atenta, como os passarinhos
secreta, como os pensamentos lascivos
pouco se sabe dela
além do tamanho dos seios e dos quadris
que é altiva: economista?
elegante: feminista?
concentrada: egoísta?
será afável, carinhosa,
compreensiva, amorosa?
ou é cismada, ciumenta,
mimada, birrenta?
poderia ser
dócil, obediente
dúctil, complacente
consigo exigente
ou tudo isto, minha
e nada mais
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UM A MAIS
Este poema aqui grafado
Era pra ser mais um guardado
Na gaveta da solidão
Mas quis ser livre, quis o mundo
Ser lido, relido e jucundo
Ser bem mais que um bordão
Aonde vais assim garboso
Sem rumo, sem prumo e fogoso
Esbanjando afeição?
Sem querer vais levando contigo
Dos meus sonhos, o mais antigo
Ser mais um na multidão
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SAUDADE ROXA
Pra falar de amor pra ela
Não quero telefonema
Só nas asas dum poema
Chego ao coração dela
Vai poema e diz pra ela
Que de mim você tem pena
Diz pra ela, vai poema
Que sinto saudade dela
Diz que a vida não serena
E a poesia vira trela
Se não é poesia dela
Diz pra ela, vai poema
Fiz promessa e acendi vela
Decifrei mil teoremas
Sobre a saudade extrema
Da doce presença dela
Vai pra ela e diz poema
Que a poesia é só pra ela
E que a saudade dela
Quer calar-te meu poema
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UM TOQUE
voar... correr; atalhos e pontes
pensei que viver era só passar
num piscar de olhos pelos montes
e deixar um choro pelo ar
só eu sou e solitário passo
são minhas do caminho as flores
eu sou o toque TOC dos meus passos
e a vida tem mil cheiros e sabores
tenho jardins e olhos a os mirar
tenho céu e mar e um dia serei
o pássaro capaz de os cruzar
de quem será o beijo que guardei?
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LAR DOCE LAR
Fora de mim sou perfeito plágio
Dos padrões e tabus humanos
Nem direito tenho de ser profano
A vida é para a morte um mero estágio
Fora de mim vagueio pela natureza
Lindas, fauna e flora, muito apreço
Porém matar a fome tem seu preço
Há carestia até para ter beleza
Fora de mim sou mais um na multidão
Número de uma estatística, um a mais na fila
Pra ser alguém há de se decorar a apostila
Que de amor não traz nenhuma lição
Fora de mim quero viver mais não
Quero ser vento, ser alado, sem destino
Não ser julgado por pecados e desatinos
Viver fechado na liberdade da ficção
Dentro de mim há beleza e fantasia
Dou aos meus dias tantas horas que quiser
E ao meu mundo as cores que escolher
Dentro de mim há amor e poesia
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ERVA DANINHA
Ela é companheira
sublime, graciosa
meio cravo, muito rosa
engenheira
Você pode dominá-la
ameaçá-la, se quiser
matá-la, se puder
ou amá-la
Ela pode resistir
ao pior julgamento
ao cruel tratamento
e ressurgir
remoçada, altaneira
e desfilar triunfante
com aquele chamejante
balanço das cadeiras
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HORA DO RUSH
pensa
deseja
caça
mira
peca
pega
esfrega
amassa
vira
revira
mexe
remexe
agita
goza
grita
grita
grita
amansa
respira
sossega
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ENAMORADO
O ser teu lado bom a mim fará tão bem
Mas quero em gratidão um perfume leve
Para dopar em mim tudo o que for breve
E poder gritar ao mundo que sou de alguém
Tu és minha senda e meu lindo idílio
Mas em meus versos não te achará
Não te farei versos como patuá
E sim para que goze no próprio delírio
Sinto-te em um céu, um axioma
Que cheiro e fuço, mas não acho a porta
E não desisto porque o que me importa
É respirar o mesmo ar da tua redoma
Quero muito ser uma das mil flores
A enfeitar teus olhos e também teus sonhos
Ter um teu retrato com rosto risonho
E a doce mania de suavizar tuas dores
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GRATO!!!
DESVARIO
Se vivo não sei por que vivo
Se nem mesmo há mais esperança
De achar na história um motivo
Para levar este amor na lembrança
Se penso não sei por que penso
Se nem mesmo existem mais planos
Apenas o vazio imenso
Deixado por tantos enganos
Se canto não sei por que canto
Se nem mesmo há mais melodia
Que combine com este meu pranto
E me dê um pouco mais de alegria
Se quero não sei por que quero
Se nem mesmo há mais a vontade
De viver um amor sincero
Nem que seja por mera vaidade
Se peço não sei por que peço
Se nem mesmo há mais o desejo
De achar por onde começo
A refazer o que já não mais vejo
DEIXA ASSIM
A mais bela forma de nos sentirmos: Na sedução!
Desarmados, descabelados, despidos
E no borrado do batom não há saída
Somos traídos pelo falso amor, a tentação
Nada mais importa além desta mania
Ou qualquer outra dimensão possível
Que se dê a esta loucura que nos faz indivisível
Na coisa viva que na lucidez não viveria
Deixa assim. É nosso alimento carburante
De quando em quando somos protagonistas
E festejamos nossas mútuas conquistas
Somos felizes num intenso instante
A mais bela forma de nos amarmos: Na ilusão!
Já que na realidade não nos amaríamos
Deixa assim, como vício, como estamos
Fugaz e voraz, como paixão
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