O mundo é mais belo pela madrugada Quando os pássaros já voam e o Homem ainda sonha Quando o Sol arrependido devolve ao mundo a sua cor Mas é breve o instante Ao longe o caos vai trepidando Seus passos, lentos, se apressando Sem pressas, louco, atropelando Com tempo, pouco, reclamando Às portas da demora: Está na hora... Está na hora... Está na...
E eu vou, já vou, só mais um pouco
O teu cheiro travestido é travesseiro Onde encosto o meu rosto entorpecido Onde me entrego à lembrança por inteiro E pelos campos da lembrança vou perdido
E perdido te acho Toco-te ao de leve a face Fito os lábios vincados num sorriso E me curvo em ti Não me soltes deste abraço Não me deixes só Não me deixes nesta hora Pois eu sei que está na hora E tu bem sabes, está na hora Que é só esta, está na hora A nossa hora, está na hora Agora, está na hora Agora, está na hora Agora, está na hora Ago...
Que me importa que seja tarde? Que esteja à mercê da vida A mercê da saudade?! Que me importa que me achem louca varrida? Ando à mercê! Deste tempo que me deprime, me faz sofrer Aqui, onde anoitece e só eu vejo, ninguém mais vê Aqui onde a esperança já não quer acender.
As horas vão passando! E eu no assento me remexendo Nesta viagem louca, mansamente caminhando Ou dando caminho à Vida e nela me perdendo.
A quem importa se trago o coração cheio ou vazio?! A quem importa que a noite que adensa me traga frio? Que me importa se as lágrimas que chorei secaram Ou se me esquecem até os que me amaram?! A Vida quebrei! Estilhacei! Quero lá saber se os cacos juntarei... Ou voltarei a juntar! Se ninguém vai saber, nem perguntar.
Cerro os dentes, calo a voz Só eu e a melancolia no portal da minha porta, esta me faz companhia, se senta comigo, Estamos sós! A Vida nos pôs de castigo. Não me importa, já nada me importa.
Na garganta me ardem os gritos Sufocados, p'la solidão desesperados Já lhes ouço o eco, dentro de mim aflitos Que me importa? Pois que fiquem também eles a um soluço confinados.
Sem que veja o tempo Passa Parecendo até Fumaça Se esvaindo no ar sem que se possa segurar. Fumaça inodora, insonsa,sem graça. Não ha ondulacões é reta,certeira,com certeza na direção certa. Tão curta ,se furta não escuta. é obediente em sua caminhada, não ha retorno,não ha atalho. Não me oponho a essa fidelidade, correndo atrás da felicidade, tão próximo do fim!
Falo dum sonho que é lenha p'ra me aquecer Falo dum tempo que se está a escapar Falo da memória que mantém vivo meu querer E falo do meu querer que é lume a crepitar. Há-de restar uma centelha viva! E na lembrança aquela última vez Por mais que a Vida se faça altiva?! Eu não me humilho e mostro altivez.
Em meu peito trago ainda vontade Trago saudade,o sonho dentro de mim. Trago inquietude, quero a paz alcançar, e não deixo meu ânimo abalar. Quero ir assim até ao fim! Levanto-me abandono meus dias vãos Traço o presente com minhas mãos! Dentro de mim há-de atinar aquilo que é o futuro... presente que há-de vir? - Quero sentir, uma parcela de felicidade Quero ser brasa ateada, não carvão!? Adormecer docemente a saudade E deixar falar alto meu coração.
Meus passos tropeçantes Tamanha mudança!? Que é feito dos sorrisos exuberantes?! No rosto daquela criança? Ainda ontem, num ontem qualquer!? Construia seu tempo novo Agora, já não ri esta mulher! Ri a Vida, que fez dela um jogo.
No albúm da memória procura fotografia E, assume a sua Morte Antecipa-se ao que o destino queria Abandona a sua estrela da sorte.
Passou o tempo, uma eternidade Resta a memória dum passado Preenche o que resta com a saudade No seu coração agrilhoado.
O tempo seu cabelo enbranquece Seus olhos são agora planaltos nevados E só o seu coração não esquece Vai batendo num rítmo descompassado. O olhar deixou de brilhar O tempo o encobriu sem cura Quem pode o tempo afrontar? Se o tempo inquieto é de loucura?!
Já ouço o vento a chamar-me É o sinal da partida Para quê há-de apressar-me?! Se tenho a Vida perdida?! Melhor é não sentir, nem ver Que a Vida é nó que breve desata Mas nunca ninguém vai saber Da partida, qual a data.
Coisifico a minha dor para caber aqui No universo que me cabe Na minha parcela de existência Criada para afagar e destruir. Existo sob a ameaça constante da extinção Estar aqui é a vitória do improvável A minha teimosia perante a sentença clara e sucinta: Sou apenas uma organização breve do caos.
E na minha insignificante gota de tempo Carrego com prazer e ardor Minhas inutilidades entorpecentes O amor, a virtude e o ego
Amar... O elo delinquente do caos A força que nos impede de ser nada E sentencia a jamais tornar-se tudo - Incompletude inerente a minha espécie...
Virtude – meu psicotrópico favorito Aquilo que me convence que ainda estarei aqui Mesmo quando nada for. E ecoa nos meus ouvidos ser o meu legado no universo Intitula-se mais importante do que a matéria que alimentará a terra que me cobrir
O ego ... O eloquente orador da minha classe de sentidos O argumentador de que sou E não apenas estou O organizador da minha parcela interior de universo O ente criado Como figura criadora do meu Big Bang O messias que me arranca da escuridão do todo Para me ajudar a trilhar a iluminação da ignorância...
Hoje estou apenas cansado De estar aqui Dentro de mim
O tempo passa e o silêncio desce Traço o último olhar sobre este dia Já a sombra da noite aparece Já surge a monotonia. Nada mais repousante que esta hora! A sombra da noite caindo Ver o Sol distante a ir embora E as giestas de amarelo vestindo. Cantam ralos sem parar E não param na ribeira as rãs de coaxar.
O burro tira ainda a àgua à nora E já o dia sem lamento vai embora.
Mergulho meus dedos na escrita A mim tantas perguntas faço!? No Mundo tanta desdita Tão pouco amor, falta de abraço. Tiro um livro da estante Pensando numa razão para a vida Fecho os olhos me sinto perdida Deixo o pensamento distante.
Escrevo, sobre coisas de pouca monta Escritos que dão pouco fruto As lembranças já me deixam tonta Perco Vida a cada minuto.
Sou como uma criança Tal qual se manifesta Ora alegre e com esperança Mas logo sem vontade de festa.
Leio um livro ofertado Que fala de lágrimas e olhos doridos Do presente e do passado E de mortos não esquecidos. De viagens sempre adiadas Páginas e páginas tristes, em tristeza mergulhadas.
Pergunto-me porque estou triste Se, porque mais um dia passou Ou porque a tristeza insiste Em me pôr mais triste do que já estou.
Não leio mais por hoje Apagou-se o fogo na lareira Já a vida me foge Ela que ardeu em mim a vida inteira.
rosafogo
Escrito no silêncio da aldeia, só ouço agora o piar dos pássaros escolhendo ramo para prenoitar.
Voam os anos, subtraem-me os dias Meus sonhos são agora inutilidade Palavras velhas são minhas companhias Tão velhas impregnadas de saudade. Sinto a vida que me foge, fico amarga Sento-me no meu tempo inventado P'ra ver se esta dor me larga E me deixa o dia de ilusões dourado.
Sempre o tempo a espiar-me! Porquê este tempo a ameaçar-me?!
Deixo os cotovelos pregados à mesa Murcha meu rosto em ânsias que explicar não sei Afogo as horas nesta tristeza E corro atrás de sonhos que já sonhei. Dobro o jornal ponho de lado Nem ler, nem escrecer me apetece hoje É como se me tivessem as mãos amputado Pendida a reviver a vida me foge.
Eu hoje sou nada! E o nada não se vence! Deixo esta queixa derramada Meu crepúsculo jà à noite pertence.
Eu era criança, ainda me lembro aquele pai levando seu filho na escola num fusquinha branco de janeiro a dezembro pelo mesmo caminho até virar um rapazola
O tempo também foi seu passageiro acompanhou sua luta e sua história os filhos casaram, levando um exemplo verdadeiro daquele pai trabalhador na sua geração e na memória
Os netos nasceram e o Vovô também com eles fizeram do seu colo o seu porto seguro e o pai pela segunda vez ouviu seus quereres tirou das suas lutas diárias, o sonhado futuro
E agora, os netos agradecidos abrem passagem para seus filhos, bisnetos daquele primeiro pai pela terceira vez, deixou de herança na linda imagem o sentido das suas vitórias, enquanto o tempo se vai
De todas as homenagens que nesta vida já recebeu a melhor de todas foi a que Deus lhe deu balançar sua vida ao lado da bisneta amada feito criança, ao lado do anjo, de alma alada
Me deixa contar-te um segredo Um segredo que me mudou Me deixa livrar-me do medo Deste medo que me calou Me deixa mostrar-te o que sinto O que sinto faz muito tempo Me deixa roubar-te um sorriso Me deixa contar-te um segredo
Eu te amo e para sempre Para sempre te amarei E mesmo sem te ter ao meu lado Ao teu lado eu sempre estarei Porque eu te amo e para sempre Para sempre te amarei E mesmo sem te ter ao meu lado Ao teu lado eu sempre estarei
Me deixa olhar-te nos olhos E lembrar-me do que senti Me deixa perder-me no tempo Perder-me a olhar para ti Me deixa lembrar o momento O momento em que me vi Do lado de dentro dos teus olhos Abraçado a ti
Eu te amo e para sempre Para sempre te amarei E mesmo sem te ter ao meu lado Ao teu lado eu sempre estarei Porque eu te amo e para sempre Para sempre te amarei E quero que saibas, que sintas que eu nunca Nunca te abandonarei E mesmo que fujas, te escondas, que morras eu sei Eu sei que te encontrarei Porque eu te amo e para sempre Para sempre te amarei
Versão reeditada de "Segredo" . Por favor clique no play para escutar a música.
Com a impotência algemada à alma e as mãos calejadas de acariciar o vazio do eco arquejante lavro na pedra barrenta do destino um outro olhar, um outro caminhar
Com a firmeza de um sem abrigo semeio na alma as flores do desejo desse desejo que me faz crente e na berma da estrada visto-me dos minutos e das horas do tempo, desse tempo sem tempo p`ra mim
A impotência permanece na ardência da alma nua e num impulso de puro atrevimento exijo ao vagabundo do tempo um milésimo de tempo por fim
Enquanto na luz dançam grãos de poeira e o relógio taquetaqueia eu medito cansada e absorta sentada, com o livro à minha beira haja quem leia! Que hoje não leio nada, estou morta.
Estou o tempo a controlar! Ele que tanto me contraria e se a poeira assentar talvez escreva poesia.
Não faço ideia da hora a vida está toda na minha mente agora até ela me ignora me dá sempre uma resposta diferente.
Gosta de me desencorajar e o relógio continua a taquetaquear.
À minha frente minha chávena de chá olho fixamente a janela estou só, tanto se me dá! Que ninguém se aproxime dela, escrevo meias palavras e ao de leve bebo meu chá, um suspiro me susteve, de dar um grito, prefiro a serenidade assim me deixo na sombra da tarde.
o tempo tanto me contraria mas o relógio parou a poeira assentou e eu escrevi esta poesia.
Quero sentir a areia espumosa nos meus pés jungidos a ti, a chuva entranhar-se nos nossos poros ressequidos, escorrendo de mansinho em mim, do outro lado de ti, sentir a vertigem estonteante da noite depois do inerte entardecer, diluir-me nas chispas flamejantes do teu olhar que me privas de o ver
Quero sentir o abraço espinhoso do roseiral em flor num delírio invernal e o beijo petalado da flor por desabrochar em toques aveludados de prazer
Quero… quero… e só tenho, tudo de nada que prevalece na poeira de nós, vagueando sem bússola, mais além num tempo de ninguém
aderiu-se aos sentidos como um tecido disforme em pretensão
sono em asas sedutoras de sonhos rumo ao infinito da ilusão em livre queda
queda em rumores apodrecidos do tempo lá fora um som longínquo desliza nas pústulas das horas adoecidas.
há zumbidos redemoinhos de pós cadavéricos do mundo juntas seivas repugnantes transbordam das podas dos jardineiros... antes do debuto tantas flores mortas
o que farão as borboletas nessas primaveras de sangue?
encolho-me protegida e apertada em uma morada sem cor
Afogo a dor involuntária trocando lágrimas por um trago do teu whisky preferido... sabor enriquecido pelas datas -épocas dos nossos elos doirados! brilhos, reflexos multicor em nossas mãos - juradas e assinadas, cumpridas! nos apelidos trocados, permutados dias que são de nós, paternidade! ó terna e doce imagem que és corpo musical, real! e adormeço nos teus braços, ó meu destino! tentando compreender onde queres me levar assim de mãos tão apertadas com este andar ora lento, ora apressado o que há nesse teu relógio de cordas tão descompassadas? por que é que o teu ponteiro sempre busca uma razão? se és dono do tempo - meu e teu - por que esse medo, por que esse tic-tac tão ateu? és menino e Imperador és atemporal e também jaz no tempo...
E não há número mais poético nem livro mais virgem do que … o teu dia questionando o eu … de teu: - quem és afinal? nessa hora... todas as horas???
(um pássaro de mil e uma luzes em milhares de movimentos harmoniosos difundindo holografias no aroma matrimonial das doze noites…)
A arte, qualquer que seja, é incompatível com a pressa. Os nossos tempos elegeram o maior inimigo das artes, a velocidade, como vector determinante, de tal modo que o que quer que seja que não seja veloz, passa ao lado, passe a expressão, não merece que se "perca" tempo. É assim, mormente, desde que o tempo passou a significar, ou a ser considerado, e não apenas a valer, materialmente, dinheiro "Time is money". Até o pensamento, se não for rápido, que fosse. Ninguém espera por um pensamento ou uma ideia. Tudo tem de estar preparado e embalado. Pré-fabricado. Com o tempo dinheiro, também o espaço sofreu uma incrível contracção. Mas tudo se agravou mais para as artes e as contemplações. E para as plantas, que parece que não crescem e não podem voar, senão quando um vendaval as arranca e as transporta para algum chão em que, por sorte, criem raízes. Uma vida já não se mede em dias, meses ou anos, mas em quantidade de moeda equivalente ao tempo "gasto" para a sustentar, que é considerado "perdido" se não der retorno. E é assim tanto com a vida dos bichos, como com a vida das pessoas. Criar riqueza hoje tem um significado muito retorcido. Um incendiário pode ser um criador de riqueza. E um consumidor de combustíveis também, assim como um vírus mortífero.
Repito recordações vezes sem conta, e o peito me dói Fugaz como um sonho o tempo se foi. O tempo que passou assim... Vou ficar tranquila, serena, sem pena de mim!
Não vou falar das incertezas que sinto Aqui no final de todos os finais O meu céu é já indistinto. Meu sonho a vida pisou demais.
Aqui o meu grito já chega confuso A vida passou como uma enxurrada O tempo se apoderou dela como intruso Um pássaro predador que passa e não deixa nada!
O pensamento em estardalhaço me põe a tremer Nele sinto o rufar de tantos tambores Às vezes apenas o gemido, dum bicho qualquer Que ferido se deixa arrastar de dores. Hoje me deixo completamente absorvida Dialógo com as minhas vidraças Dentro deste velho peito reconforto a Vida Apesar do entardecer... esqueço as ameaças.
Cortam-se os tendões a mão não mais acena rompem-se vulcões que petrificam a Açucena!
E a bela flor fóssil resistente terna, grácil de cor transparente que sorri fácil ao amor, carente, este agitado menino lático ácido em seu humor, irônico, irreverente.
E um dia em um canto qualquer entre um bem-me-quer e um mal-me-quer talvez, açucena florzinha, petrificada mulher, alguém resolva aceitar-te, inteirinha sem alguma mudança qualquer mesmo sendo tu diferente do que toda a gente quer: uma flor petrificada por uma lava idealizada uma impossível flor-mulher!
Dentro de mim há vontade Mais que o tempo vou correr Bate o coração p'la metade Mas o amor o faz bater. Corro mais que o tempo,que voa Às vezes nem me reconheço Enamorada, o ciúme ainda me magoa E a sombra da tristeza é o começo.
Mas tenho na minha ideia Que caminharemos até ao fim Porque a chama vibra e ateia Sempre que chamas por mim. E sentindo em volta de nós Ainda tudo é sentimento Quando medito a sós Doira o sol, no pensamento.
Às vezes me ponho a sonhar No sonho vejo teu rosto E o medo vem-me assolar Do medo d'algum desgosto.
Foi Deus que a vontade pôs E nos juntou neste caminhar Assim, nosso destino compôs Sempre debaixo do Seu olhar.
Meu coração que é enorme Irá deixar de bater! Quem sabe se apenas dorme Dentro do teu sem saber?!